Fecha
os olhos e deixa a mão descer pelo declive do teu peito. Não tenhas pressa – o
toque é uma linguagem antiga, anterior às palavras, anterior ao próprio corpo.
É um idioma sem gramática, onde cada curva te reconhece e cada sombra se
oferece em silêncio. Há um murmúrio entre os dedos, um lume que não queima,
apenas acende. E, quando o gesto se completa, o corpo inteiro é uma sílaba de
luz – um segredo que se diz sem voz, e nunca se apaga. Abre os lábios, o corpo
escuta o que não se diz: o seu próprio rumor, o eco do desejo. Há uma música
que nasce nos dedos, um compasso que se repete no fundo da pele. Nada é
urgente. Tudo é agora. A mão desliza, e o tempo dissolve-se no calor que se
inventa. És brisa e desejo, pulsação e silêncio. E no instante em que te
descobres, o mundo inclina-se para te ouvir suspirar. Depois, o corpo é apenas
bruma e repouso, e a pele aguarda o rastro do fogo, como quem conserva um
segredo. Há ternura no cansaço, uma doçura que não pede nada – apenas
permanece. O toque já não busca: recorda. Respiras devagar, e cada sopro é um
vestígio de amor que se recusa a morrer. O mundo volta a girar, mas dentro de
ti algo ficou suspenso – um silêncio quente, pulsando, onde antes havia desejo.
É o mesmo lume, agora manso, que ilumina por dentro o nome que ainda há pouco
sussurravas.
albino santos
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