Quando
me deito e a penumbra da noite cai sobre mim, sei que o sono me leva apenas a
meio caminho do que, verdadeiramente, espero. Porque é no instante em que
chegas, silenciosa e intensa, que os sonhos ganham forma e movimento. As
metáforas que surgem na minha boca não são simples palavras, mas rios acesos de
desejos, que procuram na tua pele a ternura e o calor de um arbusto em chamas. A
cama deixa de ser apenas lugar de repouso: torna-se altar, onde cada gesto teu
desperta em mim a linguagem profana e secreta do amor. Acordas-me, não apenas
do sono, mas da letargia do mundo; trazes-me de volta ao fogo primeiro, aquele
que antecede qualquer aurora. És claridade que rasga a escuridão, tempestade
que me prende e me liberta ao mesmo tempo. E quando vens sobre mim, não é
apenas o meu corpo que desperta – é a minha essência inteira que em ti se
reconhece, o amante que em ti renasce. Cada metáfora que invento diante da tua
nudez torna-se vacilante, porque nenhuma palavra alcança a vibração dos teus
suspiros, nem o arrepio que deixas na pele. Tu és o poema que a minha língua
aprende no toque, és a liturgia do prazer que me faz crer no divino, escondido
na sombra lancinante da tua cintura. E assim, entre o peso dos lençóis e a
leveza do teu corpo, descubro que o verdadeiro despertar não vem do rumor
manhã, mas do instante em que te deitas sobre mim e me devolves ao mundo, com o
sabor húmido da tua presença.
albino santos
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