O dia esgota-se.
O sonho adormece lentamente.
Enquanto os sentidos farejam
a exaltação do dia,
há um ranger contínuo que ecoa
dentro de mim,
talvez um sussurro cósmico
da minha criação.
Neste farejar de sentidos
me afundo na complexidade
das coisas mais banais.
Entrego-me ao vago e indefinível
e deixo que os meus lábios
respirem o húmus da madrugada.
Parece que deixei de encontrar
beleza
nas neblinas matinais,
nos nocturnos e húmidos afagos,
nessas coisas sublimes
que não têm peso nem cheiro.
No respirar latejante da
noite
um sonho estremece bruscamente
o sossego nocturno
e um suspiro se evade de mim,
lento como uma gota de água
que escorre na vidraça.
Talvez uma boca ou língua
venha a sorvê-la, abrir-lhe a névoa,
sentir o seu sabor
e saciar a sede que lhe arde nos lábios.
albino santos
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