EU NÃO ARDO NAS SOMBRAS, CONSTRUO ALVORADAS!...

terça-feira, 30 de setembro de 2025

ONDE SE PERDEM OS SONHOS


            Rasgo o infinito como quem abre uma fenda no próprio silêncio do tempo, e é então que o mar, guardião das vozes invisíveis, responde ao apelo dos meus sonhos. Não responde em palavras, mas em presságios, em redemoinhos que arrastam a memória, em marés que sonham como se fossem o pulso secreto da eternidade. O mar, com a sua vastidão, é o espelho do inatingível. Cada onda que se ergue é um gesto de criação, cada espuma que se desfaz, um segredo daquilo que o mundo esconde de nós. Nele repousa a sabedoria das origens: antes da primeira palavra, havia apenas este rumor profundo, este cântico líquido, de rosto azul, onde os deuses e as sombras se confundem.
       Quando o chamo, não é apenas água que me responde – São os destroços de paixões afogadas, o eco de constelações de sonhos que se perderam na bruma, a recordação dos mitos que deixaram de existir. É como o oceano fosse um imenso sarcófago erguido sobre colunas de vento e sal, onde cada gota guarda um oráculo. E eu, ao lançar-me nesse diálogo, compreendo que não sou um viajante, mas um fragmento chamado de volta para à luz extenuada do teu peito, onde a sombra entra devagar.
 
         Sonhar é, então, atravessar as superfícies e tocar o indizível, como quem mergulha nos corredores secretos do infinito. O mar não me consola nem me revela; ele me transfigura. Ele toma meus sonhos como oferendas e os devolve em enigmas, para que eu jamais esqueça que a vida não é resposta mas abismo em constante revelação.



albino santos
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