EU NÃO ARDO NAS SOMBRAS, CONSTRUO ALVORADAS!...

domingo, 21 de dezembro de 2025

FELIZ NATAL 2025 PARA TODOS !...

Nesta vessão de 1962, Torga tinha já uma visão que se compagina, tão nua, intensa e dolorosamente com a realidade actual. É este o fascínio da Poesia, que leva o Poeta a projectar no tempo as suas convicções de uma forma pueril, mas tão absolutamente reais!


Um anjo imaginado
um anjo dialéctico, actual,
ergueu a mão e disse:
- É noite de Natal, pas à imaginação!
E todo o ritual que antecede o milagre habitual
perdeu a exaltação.
Em vez de excelsos hinos de confiança
no mistério divino,
e de mirra, incenso e oiro
derramados no presépio vazio,
duas perguntas brancas,
regeladas como a neve que cai,
e breves como o vento
que entra por uma fresta, quezilento,
redemoinha e sai:

- À volta da lareira, quantas almas se aquecem,
fraternalmente?
- Quantas desejam que o Menino venha ouvir,
humildemente,
o lancinante crepitar da lenha?



Miguel Torga ( escrito em S. Martinho de Anta em 24 de Dezembro de 1962)
In Poesia Completa / Edições D. Quixote.

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