EU NÃO ARDO NAS SOMBRAS, CONSTRUO ALVORADAS!...

domingo, 31 de agosto de 2025

UMA BOCA NUM LUGAR SEM DATA





 



Quando era Verão na tua boca, o meu nome era um barco. E eu o navegava, sem âncora nem porto, perdido e encontrado ao mesmo tempo. O calor do teu hálito era o vento que me impelia, e cada sílaba que me devolvias com os lábios era uma maré irresistível que me arrastava. Não havia um horizonte fixo, apenas a vertigem de seguir-te, de deixar-me levar pelo fluxo secreto que habitava entre a tua boca e a minha rota imaginada. E quando sorrias, o mundo inteiro incendiava-se de luz. Havia no teu sorriso aquele gesto de eternidade que só o mar conhece quando beija uma praia pela primeira vez. O meu corpo sem saber, foi-se ajustando às tuas correntes, e cada beijo teu era um novo litoral: uma enseada para o repouso, um rochedo para a vertigem, uma tempestade onde eu queria naufragar. Dentro de ti, a palavra “eu” deixava de fazer sentido. Tornava-se um pronome dissolvido, espuma breve no oceano da tua boca. Tu sabias devolver-me esse nome, mas nunca o dizias da mesma forma: Umas vezes um murmúrio quente, outras, um suspiro abafado, ou silêncio carregado de desejo. Era nesse jogo, nessa oscilação, que eu me descobria – não navegante, mas embarcação rendida, corpo entregue ao teu corpo. E cada beijo era muito mais que beijo. Os lábios tocavam-se e tudo o resto desaparecia – as ruas, o tempo, até o ar que respiravamos. Ficava apenas o rumor das ondas, o calor do Verão, a vertigem de estar em ti como quem mergulha sem voltar à superfície. Quando era Verão na tua boca, eu não era apenas um barco, era a própria viagem. E tu eras o mar inteiro, vasto e infinito, a chamar-me para sempre. Uma boca num lugar sem data.



albino santos
* Reservados Todos os Direitos de Autor

sexta-feira, 29 de agosto de 2025

NOITE


 

Toma-me noite.
Sem sombra de amargura, entrega-me ao teu silêncio profundo, como quem abre os braços para um mergulho inevitável. Serei a tua seiva secreta, dissolvendo-me em teus véus escuros, até que não reste de mim senão um sopro que te percorre. Deixa que me disperse em ti, como um punhado de estrelas que se desfaz no vento. Quero perder-me no calor da tua escuridão, sentir a tua respiração roçando a minha pele, e descobrir no fundo do teu corpo imenso a promessa de um repouso ardente. Não venho com luto, nem com a frieza dos que temem. Venho como quem deseja, como quem se entrega sem defesa. Em teu silêncio, encontro a música secreta que me chama. Em tua sombra, o contorno do que sou se expande como sede, e quanto mais me desfaço, mais me torno teu. Noite, toma-me. Faz de mim o rastro que se mistura ao teu fascínio. E que, disperso em ti, seja eu – paradoxalmente – mais teu do que nunca.



albino santos
* Reservados Todos os Direitos de Autor

terça-feira, 26 de agosto de 2025

SENTIR-TE EM MIM


Sentir-te em mim, terna e amante, é mais que sentir a tua presença – é um grito de silêncio e vertigem, um instante suspenso entre o que somos e o que sonhamos ser. Quando estás em mim, quando o teu corpo se rende ao meu com essa doçura quase luminosa, habito algo maior que o teu corpo: Uma constelação louca, acesa de desejo e ternura, que dança acima do tempo, onde o tempo jamais ousa entrar. Nessa órbita em que giramos, nos teus olhos doces e na tua pele macia como uma brisa quente, há uma luz por trás de toda a magia da noite que não vem do mundo, mas do amor. É o luar que beija nossos corpos por debaixo da noite, cúmplice do segredo que somos. E tudo em ti me chama: os teus silêncios falam a linguagem do desejo, os teus suspiros são mapas que sigo com os dedos acesos, trémulos de emoção. E tu, em mim, és muito mais que corpo – és abrigo, ternura, vértice do que é sagrado. És o murmúrio mais puro da noite, esse instante em que o mundo se recolhe e só restamos apenas nós dois. E quando te sinto assim – tão minha, tão presente como um perfume que nunca parte – compreendo que amar-te é habitar esse céu íntimo e subir os todos os degraus que nos conduzem à morada dos astros.



albino santos
* Reservados Todos os Direitos de Autor

domingo, 24 de agosto de 2025

SEDE



No verão, o mundo transpira desejos ocultos. O calor solta os aromas da terra, da pele, da fruta que se abre ao mais leve toque. E tu, és feita dessa mistura quente e provocante – o perfume da tarde na tua pele é uma vertigem que me leva a querer provar tudo, lentamente. Quando passas, trazes contigo esse cheiro doce, ácido, quase proibido – como o de uma laranja que se espreme devagar sobre a língua. E eu, sedento, deixo que esse aroma se cole em mim, como suor escorrendo sobre a pele. Há em ti um calor que não se vê, mas que se sente – entre o sussurro e o gesto, entre o olhar e a boca. A tua boca… tão fresca, tão molhada, cheia de promessas ditas em silêncio. É nela que a minha sede se faz fogo. Porque o que eu quero, não é só o gosto da tua saliva, mas a lentidão com que ela escorre quando os teus lábios se entreabrem, quando dizes o meu nome como se o provasses. Há uma sede que o verão desperta em nós – mas só tu sabes o sabor que a sacia. Quero-te com essa sede de fogo que nasce e morre na tua boca. E quando me aproximo com a sede gemendo na minha boca, eu sei que é na tua boca que me quero saciar. 



albino santos
* Reservados Todos os Direitos de Autor

quinta-feira, 21 de agosto de 2025

DEPOIS DO AMOR



Depois do amor, quando as nossas bocas ternamente se procuram, o corpo já não pesa, torna-se bruma, transparência que se rende à realidade. Dissolvo-me em ti como quem se perde num clarão secreto, onde a pele ainda pulsa e as sombras se afogam exaustas. Mas a exaustão não é ausência, é júbilo e excesso: o vestígio da entrega que incendiou cada gesto. E mesmo quando os olhos se fecham, prolongando o instante, algo permanece aceso. São as palavras – erguidas, febris, verticais. Elas não cedem, não tombam. Ardem no espaço entre os corpos, como árvores em brasa, sustentando o fogo e o amor que ainda respira no calor da pele. Não há fim, apenas um lento clarão nas sílabas que não sabemos calar.



albino santos
* Reservados Todos os Direitos de Autor

quarta-feira, 20 de agosto de 2025

O SILÊNCIO


O silêncio é um mar sem ondas e nele me perco sem rumo. Não há bússola que me guie, nem vento que me leve; apenas a vastidão que se estende, imóvel, como se o tempo tivesse parado para escutar o meu próprio respirar. Cada instante é uma água límpida que me envolve, num espaço onde a ausência se transforma numa presença infinita. Navegar sem rumo não é perder-se – é entregar-se. É permitir que o vazio revele os contornos ocultos da alma, que cada pensamento se erga como uma ilha distante, pronta a desaparecer no horizonte.
No silêncio, não há urgência, os passos que não dei, as palavras que não pronunciei, os amores que não vivi, todos encontraram abrigo nesse oceano calmo, onde nada se exige além do estar. E quanto mais avanço, mais percebo que não há chegada. A viagem é o próprio mergulho no silêncio, esse espaço onde o mundo se dissolve e só resta o essencial: eu, suspenso, à deriva… em paz!



albino santos
* Reservados Todos os Direitos de Autor

segunda-feira, 18 de agosto de 2025

O AMOR E A ROSA


 









Não deixes que o amor se prenda nos espinhos de uma rosa. O amor foi feito para tocar sem pressa, na delicadeza das pétalas, onde tudo é vivo e palpitante. O toque certo não rasga: desliza. Mãos que conhecem o caminho não têm pressa de chegar; percorrem, sentem, exploram, como quem lê um poema escrito sobre a pele. Há rosas que se fecham por medo; Há outras que se abrem ao primeiro sopro que lhe beija o âmago. A fragrância que exalam não é só perfume – é confissão. É um pedido mudo de ternura, para que o amor entenda o idioma secreto da entrega. Afasta o amor dos espinhos afiados da insegurança, que arranham até o mais puro desejo. Leva-o ao âmago da flor, onde o calor é quase chama, e a respiração se mistura com o perfume da pele. Ali, cada pétala é uma fronteira ultrapassada, cada suspiro é um abismo que se atravessa, cada toque a certeza de que nada mais importa fora daquele instante. E quando a rosa enfim se oferece inteira, o tempo deixa de existir e o mundo se resume ao instante em que cada pétala é um suspiro profundo que se desfaz na boca. Aí, o amor não se magoa. Aí, o amor floresce!




albino santos
* Reservados Todos os Direitos de Autor

quinta-feira, 14 de agosto de 2025

NO RUMOR DA NOITE


 







A noite veste-se de seda e pousa sobre mim. No ar, o hálito quente do verão mistura-se com o cheiro da terra molhada, como se tivesse acabado de chover. Há rumores que não vêm do vento, mas de bocas invisíveis roçando a minha pele. Sons baixos, quase beijos, que se enroscam no meu corpo. As sombras movem-se como amantes que dançam sem música – mãos imaginárias contornam as minhas formas com  lentidão, saboreando a distância antes de tocar. A lua brilha, oblíqua, espreita como amante impaciente, derramando luz sobre a pele como quem despe devagar. A noite é como um corpo que me envolve, e cada rumor é um suspiro que se recusa a acabar. Porém... há um rumor diferente que tem a tua voz e a forma do teu corpo. E no lugar onde os meus olhos repousam e a alma se despe, são as tuas mãos que me encontram como destino. Vêm suaves como a brisa, atravessando véus de sono, como se o próprio universo te sussurrasse o caminho até chegares a mim. E quando me tocas, algo em mim se acende. E tu, feita de desejo e madrugada, pintas constelações no meu peito com a ponta dos dedos, como se o meu corpo tivesse sido moldado nos teus contornos. E cada gesto teu sobre a minha pele, me dá a certeza secreta de que à noite sempre voltarás. Porque há momentos de amor que não se perdem, vivem dentro de nós, mesmo quando o mundo inteiro dorme serenamente e nós nos encontramos, ternamente, no rumor da noite.




albino santos
* Reservados Todos os Direitos de Autor


segunda-feira, 11 de agosto de 2025

O TEMPO... É AGORA!...


Quando a noite se torna mais escura, como tela sombria a negro impressa, é tempo de largar as amarras e deixar que o coração fale mais alto que o medo. A cidade dorme, mas nós não. Há um pulsar secreto no escuro, um sussurro que se infiltra pelas frestas da madrugada, como um sopro profano prometendo a eternidade do instante. É tempo de viver o amor rasgando a noite, atravessando as ruas vazias como quem corta um véu, desnudando segredos e inventando o amanhã com as próprias mãos. É tempo de olhar nos olhos até que a hora se renda, até que a lua - pálida e invejosa - se curve diante do que somos quando esquecemos o resto do mundo e desvendamos a noite em fendas de luz e vertigem. É tempo de deixar o corpo arder até que ele aprenda o idioma das chamas. Que nunca mais habite em nós o árido silêncio da espera, mas sim o ruído doce de dois corpos que se encontram como tempestades que se completam. O amor é lâmina e é abraço; decepa a solidão e envolve a pele. Cada toque é um incêndio breve, e cada beijo é mapa para um lugar que não existe fora de nós. A noite é frágil diante de tanta luz. O escuro se rasga, o tempo se dilata. E nós – apenas nós – seguimos, porque sabemos que o amanhecer não é o fim, mas a consequência inevitável de viver sem freios, como se a eternidade coubesse inteira entre dois suspiros. Não pode haver data, nem hora, nem medo. Apenas o amor, e o amor não conhece madrugadas – apenas horizontes!



albino santos
* Reservados Todos os Direitos de Autor

sexta-feira, 8 de agosto de 2025

LÍRICO INSTANTE

Na policromia dos delírios que emanam de cada um dos meus silêncios, liberto os mais ousados devaneios da minha imaginação. Fecho os olhos, e deixo os meus dedos deslizarem pela tua pele, descendo a alça do teu vestido. Ah! Lírico instante em que a poesia dos meus olhos se torna incandescente nos teus seios – esse santuário de curvas onde a minha sede repousa e a febre das palavras se dissolve no silêncio dos meus olhos. Escultura de desejo moldada pela luz pálida da madrugada, é a metáfora mais ardente que o meu olhar já escreveu. Cada gesto teu é um verso sem rima que me embriaga, cada suspiro, um poema secreto que só os meus dedos sabem ler. E quando te cai a alça do vestido, não é apenas o corpo que se revela – é o mistério do mundo, o brilho do que é sereno e belo, o doce abismo entre o que se vê e o que se sente. Os teus seios brancos, redondos, os mamilos rosados pela dilatação da tarde escaldante, são suaves colinas onde os meus lábios encontram paz, acendem em mim um fogo sereno e absoluto, como se o próprio tempo parasse para te contemplar. E eu me deixo perder em ti. Mas não importa perder-me se for no calor dos teus vales, no pulsar do teu ventre sob a minha mão, porque és o poema que nunca se encerra, o instante eterno em que deixo de ser quem sou para ser apenas desejo. Há em ti um poema que não sei escrever com palavras, mas que o meu corpo inteiro aprende a declamar em silêncio, quando te toco com amor e ternura, como quem toca o coração de um sonho.




albino santos
* Reservados Todos os Direitos de Autor

segunda-feira, 4 de agosto de 2025

A SOMBRA









Há algo teu que me toca, mesmo quando não estás – é a tua sombra. Chega sempre antes de ti, entra pelas frestas do meu quarto, escorre pelas paredes, invade o meu corpo como quem já sabe o caminho. Sussurra no escuro e espalha pelo quarto o teu perfume. Depois, silenciosamente, deita-se comigo, respira sobre a minha nuca e os seus contornos moldam o lençol. Tem o peso exacto do meu olhar quando te dispo, sem pressa, sem culpa, com aquela lentidão que os olhos pedem. Sinto o vestígio morno da tua pele na minha, a lembrança do teu sorriso entreaberto, do teu cabelo caindo desordenado sobre o peito. A tua sombra conhece os caminhos do meu corpo, os atalhos da minha vontade. Toca onde tu tocavas... e onde não tocaste, imagino que tocarias. Às vezes penso: talvez eu tenha amado mais a tua sombra do que a tua luz. Talvez tenha sido nela que me perdi. Porque a tua sombra não se deixa esquecer. É feita do que tu calaste, é o tudo o que não concluíste, o desejo que continua a insinuar-se no teu olhar. Então fica querida sombra!... Deita-te sobre mim como fazias e deixa que eu te sinta no calor da noite. Porque entre o amor e a luz, há sempre uma sombra que escorre pelas paredes do meu quarto e invade o meu corpo como quem já sabe o caminho.


albino santos
* Reservados Todos os Direitos de Autor

sexta-feira, 1 de agosto de 2025

ENTRE A PRAIA E O LUAR


Há lugares que não são feitos de geografia, mas de emoção. São lugares de puro encanto onde o mundo parece suspenso. Há neles momentos que não pertencem ao tempo, mas ao amor. Entre a praia e o luar há um espaço onde o tempo não se apressa – um intervalo de silêncios doces e promessas por cumprir. É lá que os meus sonhos se deitam, como conchas à espera da maré certa. O sal do mar cobre-lhes a pele e o vento murmura segredos antigos, sussurrados por quem já amou demais. O luar, espelho divino no céu, derrama-se sobre a areia como um afago que nunca se foi. Ilumina a filigrana dos contornos do que ainda não vivi e pinta com prata os desejos que me habitam. Às vezes, os sonhos dançam com a espuma das ondas; outras vezes, adormecem comigo na solidão dos rochedos, embalados pelo murmúrio contínuo do mundo. Ao longe, há um farol que nunca se apaga – é o coração a resistir, a indicar o caminho quando me perco de mim. E quando isso acontece, sinto que o universo respira fundo, preso entre o som do mar e o perfume salgado da noite. Sento-me então entre a brisa e o infinito, a recordar os sonhos que já tive, a ouvir os passos que não dei, a pensar as palavras que nunca te disse, esperando que o mar as leve até às ondas onde, também tu, talvez sonhes comigo.


albino santos
* Reservados Todos os Direitos de Autor