A partir da janela posso avistar o mundo.
Contemplar a noite imensa das flores estelares,
a espuma das ondas em fúria beijando os rochedos,
sentir a ácida bruma que me humedece o rosto.
Só tu não surges na luz de fogo que pinta o entardecer.
Em breve a noite terá devorado a paisagem
e restará apenas a espantosa solidão das horas
que me atravessam o corpo.
A noite cobrir-me-á a mão que se estende
para a linha do horizonte. E nada encontrará.
Nada tocará, a não ser a espessa solidão.
Talvez adormeça.
Acordarei de novo com meus abismos vivos,
com as mesmas dúvidas,
com os caminhos falsamente limpos,
com as mesmas melodias dolorosas,
trazendo nas mãos carícias quase sempre inábeis,
um absurdo poeta que pensa ter encontrado
a luz e a palavra exacta para cada gesto
que te traga até mim…
albino santos
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