Venho
a este rio e banho-me no seu doce silêncio. Detenho-me na beleza suave das suas
margens, que o tornam prisioneiro de um abraço interminável, sem que possa
saber-se se é o rio que deseja ser abraçado, ou se as margens que o querem abraçar.
Talvez haja uma vontade cúmplice que os torna prisioneiros um do outro. E
assim, permanecem entre carícias e murmúrios, num desejo constante que se
reflecte na vertigem das águas, machucando-se, torturando-se... Amam-se.
Intensamente. Sem palavras, sem que tenham sequer de se atormentar com um beijo
de despedida. Às vezes penso que gostava de ser esse rio. Como se o destino da
minha água fosse não ficar em mim e partir com os últimos raios de sol no bico
das andorinhas… ou então, ser cúmplice deste imenso e doce abraço e nidificar
no rumor das águas.
albino santos
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