Olho para dentro de mim
e vejo uma paisagem devassada. Treva.
Treva que me cega pelo excesso de luz,
fazendo com que uma estranha leveza
se apodere de mim.
Sinto-me capaz de levantar voo junto com as aves,
ser intocável como as estrelas.
Torno-me assim um viajante sem destino,
parto nas palavras do poema e viajo
no âmago dos ventos para bem longe de mim.
Às vezes dou por mim a chamar o teu nome,
a desejar o teu corpo, a tua voz,
o teu silêncio. Pressinto a tua sombra,
imóvel, fria, mas não ligo, porque
em ti me foste apagando.
Sei que entre a treva e os sonhos,
há-de haver sempre o lume brando
de uma consciência carbonizada
Sei que buscando a luz do meu caminho,
talvez te encontre no fim da viagem.
Assim atravesso as noites,
na incerteza de estar e não estar, num tempo
onde tudo é tão próximo e intocável.
albino santos
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