As palavras
são por vezes um clarão
no dia calcinado.
Outras vezes
saem da noite,
despedaçadas e feridas.
Mas é aqui,
onde te vim encontrar
que as minhas palavras
ganham raízes.
Procuram-te, sequiosas
felizes,
querendo-te tocar.
São palavras frágeis,
aromas de mar
estas que escrevi.
Na avidez de ti
são leves e ágeis
como se fosse eu
tocando em ti…
Sobre o
implacável passar das noites
percorro os caminhos mais sombrios
na procura do sonho certo.
Entrego-me à sedução e à vertigem
que me envolve no meio da noite,
invado-te o sono,
tropeço nas tuas carícias
até morrermos lentamente de prazer
no parapeito das madrugadas.
Queima-me a chama intensa do desejo
e revejo-me num olhar tão cúmplice
como quem pressente o apelo dos lábios.
Nada é inacessível
na suavidade infinita do teu olhar.
Falamos a mesma linguagem,
sentimos o mesmo calor na pele
o mesmo irrecusável apelo.
Há uma nuvem meiga que nos chama!
albino santos
* Reservados Todos os Direitos de Autor
Enquanto te espero
o tempo, pálido como uma gota de água,
escorrega na vidraça.
O reflexo do sol desapareceu
com o amargo sabor da solidão
e um estranho silêncio
me envolve, rodeado de sombras.
Sei que já é tarde. Sempre foi tarde,
mesmo quando ainda era cedo
para nos saciarmos de amor
até arder o último suspiro da noite.
É claro que ainda sei esperar
por ti.
O tempo não destrói a loucura dos poetas.
Sei que virás. Como sempre,
com o desejo a queimar no teu corpo
e a palavra amor a arder
nos teus lábios.
O sol... esse voltará refletido no júbilo
dos teus olhos!
albino santos
* Reservados Todos os Direitos de Autor
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Havia uma certa
delinquência
no seu olhar
um doce sorriso desnudado
que se acendia nos lábios aveludados,
como um lume mágico que se transformava
num prazer devasso e delicado.
Havia um brilho profano
no seu olhar,
uma luz incógnita que no meu se derramava
pleno de ousadia,
onde o poema sempre acontecia.
Havia um desejo consentido
no seu olhar
uma cumplicidade fácil de entender
que só para mim se revelava.
Era uma vontade silenciosa, quase secreta,
um doce açoite,
que acontecia no calor da noite.
albino santos
* Reservados Todos os Direitos de Autor
O tempo é uma breve melodia,
um suave murmúrio
o eco de um amor mudo no incêndio dos olhos.
É ser, no delicioso enlace das cores,
uma pincelada na tua tela.
Tempo,
é o instante em que entrego
o corpo e a alma
nos
braços da ausência,
como
uma nuvem dissipada no horizonte
sem
vida e sem claridade.
Tempo,
é cada dia em que renasço
e procuro a boca ou o fruto
onde se reflitam os meus lábios;
É
sentir que estamos de passagem
e
o fugaz basta
para
me inebriar com a cor sonora da tua voz,
melodia
breve,
onde
para sempre vibrará o teu nome.
albino santos
* Reservados Todos os Direitos de Autor
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