Tento construir o poema num
adágio de sílabas,
estranha dança entre o silêncio e o júbilo
sem direcção nem caminho.
Procuro as palavras numa imprevisível estrela,
no voo casual de um pássaro ingénuo,
no latido de um insecto,
no fogo esparso que se alastra no horizonte.
Poupo nas razões para me exceder na utopia
e o poema nasce do vazio,
em vocábulos breves de contornos incoerentes.
Volúvel, constante e obstinado
o poema se expande e se ramifica
num êxtase dinâmico e multiforme.
Tudo o incita, nada o detém senão o ímpeto
de uma inconsolada boca com sede de fogo!
O poema exalta-se.
Estremece na sua música silenciosa,
deixa-se guiar pela suavidade da minha mão,
adere aos contornos da paisagem
e eleva-se ao topo da vertigem
para lhe dar a beber o sol inteiro!
albino santos
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