É noite. Por trás da luz, há a luz da tua sombra, mas só posso vê-la de olhos abertos no sonho. Abro os olhos. Parto contigo num sonho alado para melhor te sentir o toque no fascínio do voo, para que o beijo seja muito mais que beijo. Mergulho na tua boca, respiro pela tua pele, os meus poros abrem-se e exalam o teu cheiro. Os nossos dedos dedilham divinas melodias. Toco-te Bach pelo corpo, desenho-te Brahms com as mãos, mergulho no abismo da descoberta e por toda a parte irrompe um rio vermelho ardendo numa sede de reversos. O fluido torna-se linguagem, dessedenta a vida, encurta todas as distâncias em busca de um tempo que seja só nosso, que perdure para além do sonho como um noturno de Chopin. A luz da tua sombra, cada vez maior se desenha no túnel secreto da minha solidão até me trespassar o corpo. Abro os olhos e sonho. Sou um verso sem leito onde deitar-me. Serei aquele que nunca acordou para o mundo, porque tudo o que acontece quando te sonho, me reconduz em linha reta à divindade.
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albino santos
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