EU NÃO ARDO NAS SOMBRAS, CONSTRUO ALVORADAS!...

segunda-feira, 30 de junho de 2025

O TEU CORPO CHEIRA A MADRUGADA




O teu corpo cheira a madrugada como se a noite inteira tivesse adormecido sobre a tua pele – esse lume doce e morno que arde sem pressa. Há em ti um perfume que não vem de estranhas alquimias, mas das horas silenciosas em que o mundo ainda sonha, e tu existes em carne viva, feita de brisa e maresia. Cheiras a orvalho recém-nascido, a lençóis que guardam segredos sussurrados entre o sono e o desejo. Há um frescor húmido, quase tímido, que dança nos contornos do teu corpo, como se a própria noite se despedisse em ti. E quando me aproximo, não sei se é o teu cheiro que me envolve ou se é a própria madrugada a descer-me pelos ombros. Tens no corpo a ternura do céu que começa a clarear, e nos teus gestos lentos, mora o silêncio cúmplice das quatro da manhã. Toco-te e é como tocar a luz ainda por nascer. Beijo-te e é como beber a frescura da primeira água do dia. O teu corpo cheira a promessa: de calor, de abrigo, de ternura, de prazer, de eternidade. Cheira a pele que se dá inteira sem pedir licença ao tempo. E é nesse perfume feito de sombra, de calma e de mistério, que em ti encontro o princípio e o fim de todas as horas e permaneço cativo desse perfume – raro, suave, eterno – que só existe quando te abraço, quando te respiro, quando te faço minha.



albino santos
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3 comentários:

  1. Tocarte es como tocar la luz aún por nacer... Entre tantos hallazgos logrados cito este, amigo. Depurado verso. Una verdadera detección poética...
    Abrazo admirado otra vez.

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  2. Todos tenemos una señal de identidad, una son las huellas dactilares y otra nuestro propio olor, nadie huele igual a otra.
    Muy bonito tu descripción, del aroma de una mujer.
    Un abrazo y muy feliz semana.

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  3. Albino,

    teu poema é um sussurro prolongado desses que escorrem pela pele como a própria madrugada que descreves. Ler-te é como entrar num quarto onde o silêncio tem cheiro, e o tempo… quase para.
    Há uma delicadeza incendiária nesse texto.
    O corpo amado, aqui, não é só desejo: é alvorada, é bruma, é templo e travessia.
    E o modo como vestes o perfume de alguém com palavras tão táteis é de uma beleza rara quase litúrgica.
    Fiquei cativa dessa madrugada que não termina. E desse amor que se revela no intervalo entre o toque e o verbo.
    Belo poema 👏🏻👏🏻👏🏻

    Com admiração,
    Fernanda!

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