O teu
corpo cheira a madrugada como se a noite inteira tivesse adormecido sobre a tua
pele – esse lume doce e morno que arde sem pressa. Há em ti um perfume que não
vem de estranhas alquimias, mas das horas silenciosas em que o mundo ainda
sonha, e tu existes em carne viva, feita de brisa e maresia. Cheiras a orvalho
recém-nascido, a lençóis que guardam segredos sussurrados entre o sono e o
desejo. Há um frescor húmido, quase tímido, que dança nos contornos do teu
corpo, como se a própria noite se despedisse em ti. E quando me aproximo, não
sei se é o teu cheiro que me envolve ou se é a própria madrugada a descer-me
pelos ombros. Tens no corpo a ternura do céu que começa a clarear, e nos teus
gestos lentos, mora o silêncio cúmplice das quatro da manhã. Toco-te e é como
tocar a luz ainda por nascer. Beijo-te e é como beber a frescura da primeira
água do dia. O teu corpo cheira a promessa: de calor, de abrigo, de ternura, de
prazer, de eternidade. Cheira a pele que se dá inteira sem pedir licença ao
tempo. E é nesse perfume feito de sombra, de calma e de mistério, que em ti
encontro o princípio e o fim de todas as horas e permaneço cativo desse perfume
– raro, suave, eterno – que só existe quando te abraço, quando te respiro,
quando te faço minha.
albino santos
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EU NÃO ARDO NAS SOMBRAS, CONSTRUO ALVORADAS!...
segunda-feira, 30 de junho de 2025
O TEU CORPO CHEIRA A MADRUGADA
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Tocarte es como tocar la luz aún por nacer... Entre tantos hallazgos logrados cito este, amigo. Depurado verso. Una verdadera detección poética...
ResponderEliminarAbrazo admirado otra vez.
Todos tenemos una señal de identidad, una son las huellas dactilares y otra nuestro propio olor, nadie huele igual a otra.
ResponderEliminarMuy bonito tu descripción, del aroma de una mujer.
Un abrazo y muy feliz semana.
Albino,
ResponderEliminarteu poema é um sussurro prolongado desses que escorrem pela pele como a própria madrugada que descreves. Ler-te é como entrar num quarto onde o silêncio tem cheiro, e o tempo… quase para.
Há uma delicadeza incendiária nesse texto.
O corpo amado, aqui, não é só desejo: é alvorada, é bruma, é templo e travessia.
E o modo como vestes o perfume de alguém com palavras tão táteis é de uma beleza rara quase litúrgica.
Fiquei cativa dessa madrugada que não termina. E desse amor que se revela no intervalo entre o toque e o verbo.
Belo poema 👏🏻👏🏻👏🏻
Com admiração,
Fernanda!