EU NÃO ARDO NAS SOMBRAS, CONSTRUO ALVORADAS!...

segunda-feira, 4 de agosto de 2025

A SOMBRA









Há algo teu que me toca, mesmo quando não estás – é a tua sombra. Chega sempre antes de ti, entra pelas frestas do meu quarto, escorre pelas paredes, invade o meu corpo como quem já sabe o caminho. Sussurra no escuro e espalha pelo quarto o teu perfume. Depois, silenciosamente, deita-se comigo, respira sobre a minha nuca e os seus contornos moldam o lençol. Tem o peso exacto do meu olhar quando te dispo, sem pressa, sem culpa, com aquela lentidão que os olhos pedem. Sinto o vestígio morno da tua pele na minha, a lembrança do teu sorriso entreaberto, do teu cabelo caindo desordenado sobre o peito. A tua sombra conhece os caminhos do meu corpo, os atalhos da minha vontade. Toca onde tu tocavas... e onde não tocaste, imagino que tocarias. Às vezes penso: talvez eu tenha amado mais a tua sombra do que a tua luz. Talvez tenha sido nela que me perdi. Porque a tua sombra não se deixa esquecer. É feita do que tu calaste, é o tudo o que não concluíste, o desejo que continua a insinuar-se no teu olhar. Então fica sombra!... Deita-te sobre mim como fazias e deixa que eu te sinta no calor da noite. Porque entre o amor a luz, há sempre uma sombra que escorre pelas paredes do meu quarto e invade o meu corpo como quem já sabe o caminho.


albino santos
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