Depois
do amor, quando as nossas bocas ternamente se procuram, o corpo já não pesa,
torna-se bruma, transparência que se rende à realidade. Dissolvo-me em ti como
quem se perde num clarão secreto, onde a pele ainda pulsa e as sombras se
afogam exaustas. Mas a exaustão não é ausência, é júbilo e excesso: o vestígio da entrega que
incendiou cada gesto. E mesmo quando os olhos se fecham, prolongando o
instante, algo permanece aceso. São as palavras – erguidas, febris, verticais.
Elas não cedem, não tombam. Ardem no espaço entre os corpos, como árvores em
brasa, sustentando o fogo e o amor que ainda respira no calor da pele. Não há
fim, apenas um lento clarão nas sílabas que não sabemos calar.
albino santos
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Albino,
ResponderEliminarteu poema é pura incandescência. Há nele uma delicadeza que se mistura com a intensidade do instante amoroso, onde o corpo deixa de ser matéria para se tornar clarão, bruma e vertigem. Gostei muito da maneira como transformas a exaustão em júbilo, em excesso de vida, em vestígio da entrega. E quando o corpo parece silenciar, são as palavras que permanecem ardendo, verticais, sustentando a chama. Essa imagem das sílabas que não se calam é belíssima como se o amor tivesse sempre uma última forma de existir: na linguagem que resiste ao tempo.
Lindo demais!
Abraço
Fernanda!