Quando a noite se torna mais
escura, como tela sombria a negro impressa, é tempo de largar as amarras e
deixar que o coração fale mais alto que o medo. A cidade dorme, mas nós não. Há
um pulsar secreto no escuro, um sussurro que se infiltra pelas frestas da
madrugada, como um sopro profano prometendo a eternidade do instante. É tempo
de viver o amor rasgando a noite, atravessando as ruas vazias como quem corta
um véu, desnudando segredos e inventando o amanhã com as próprias mãos. É tempo
de olhar nos olhos até que a hora se renda, até que a lua - pálida e
invejosa - se curve diante do que somos quando esquecemos o resto do mundo e
desvendamos a noite em fendas de luz e vertigem. É tempo de deixar o corpo
arder até que ele aprenda o idioma das chamas. Que nunca mais habite em nós o
árido silêncio da espera, mas sim o ruído doce de dois corpos que se encontram
como tempestades que se completam. O amor é lâmina e é abraço; decepa a solidão
e envolve a pele. Cada toque é um incêndio breve, e cada beijo é mapa para um
lugar que não existe fora de nós. A noite é frágil diante de tanta luz. O
escuro se rasga, o tempo se dilata. E nós – apenas nós – seguimos, porque
sabemos que o amanhecer não é o fim, mas a consequência inevitável de viver sem
freios, como se a eternidade coubesse inteira entre dois suspiros. Não pode
haver data, nem hora, nem medo. Apenas o amor, e o amor não conhece madrugadas
– apenas horizontes!
albino santos
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