EU NÃO ARDO NAS SOMBRAS, CONSTRUO ALVORADAS!...

domingo, 28 de setembro de 2025

VIVALDI








        Ainda ontem éramos a invenção de um tempo secreto, uma melodia que Vivaldi jamais ousou compor. Um prelúdio apenas feito para nós, onde o vento trazia murmúrios de cordas invisíveis e a noite se abria como um palco de seda. Ali, entre a penumbra e o desejo, buscávamos a melodia que nos fazia existir, como se cada nota fosse a respiração suspensa entre a tua boca e a minha. Eternizamos partituras invisíveis, gravadas não em pautas, mas sobre a pele arrepiada, no tremor das mãos que se procuram sem destino. Não há silêncios ou sons que as contenha, porque são feitas de instantes irrepetíveis – o calor de um beijo demorado, a dança lenta do teu corpo no meu, o silêncio que se torna sinfonia quando me perco nos teus olhos. Mas é pelo solfejo dos meus dedos, ao deslizar na tua pele como quem percorre uma partitura, que a música se faz ouvir. A cada toque, um acorde desperta, a cada suspiro, uma orquestra inteira se ergue. O teu corpo é uma harpa de fogo, e eu, sou apenas quem se deleita no prazer de te tocar. Então, a melodia sobe de tom, eleva-se em chamas, como uma aurora inevitável, incendiando o espaço entre nós. Não é apenas música: é revelação. Uma obra eterna que nasce em ti, se expande em mim, e só conhece o infinito quando os nossos corpos se encontram em plena sintonia, no auge da música.

 


albino santos
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