Ainda
ontem éramos a invenção de um tempo secreto, uma melodia que Vivaldi jamais
ousou compor. Um prelúdio apenas feito para nós, onde o vento trazia murmúrios
de cordas invisíveis e a noite se abria como um palco de seda. Ali, entre a penumbra
e o desejo, buscávamos a melodia que nos fazia existir, como se cada nota fosse
a respiração suspensa entre a tua boca e a minha. Eternizamos partituras
invisíveis, gravadas não em pautas, mas sobre a pele arrepiada, no tremor das
mãos que se procuram sem destino. Não há silêncios ou sons que as contenha,
porque são feitas de instantes irrepetíveis – o calor de um beijo demorado, a
dança lenta do teu corpo no meu, o silêncio que se torna sinfonia quando me
perco nos teus olhos. Mas é pelo solfejo dos meus dedos, ao deslizar na tua
pele como quem percorre uma partitura, que a música se faz ouvir. A cada toque,
um acorde desperta, a cada suspiro, uma orquestra inteira se ergue. O teu corpo
é uma harpa de fogo, e eu, sou apenas quem se deleita no prazer de te tocar. Então,
a melodia sobe de tom, eleva-se em chamas, como uma aurora inevitável,
incendiando o espaço entre nós. Não é apenas música: é revelação. Uma obra
eterna que nasce em ti, se expande em mim, e só conhece o infinito quando os
nossos corpos se encontram em plena sintonia, no auge da música.
albino santos
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