É no sonho que o instante se faz
eterno. Porque no sonho o tempo já não corre, mas se transforma em espirais
suaves que respiram e sentem. Um minuto ali contém a vastidão de um século, e
um século pode dissolver-se em apenas um gesto: a mão que quase toca a outra, a
palavra suspensa no ar, a lembrança que se acende como chama na escuridão.
O sonho não conhece fronteiras. Ele toma o
que foi vivido e o que ainda não aconteceu, mistura tudo no mesmo lago
silencioso, e ali deixa que brilhem reflexos de um impossível que, de repente,
é tão real como o próprio corpo. Aí, o instante não passa – expande-se.
Torna-se um campo aberto, onde cada detalhe pulsa na noite transfigurada, e
tudo começa a ser ave ou lábios a querer voar: o olhar que se prolonga, o vento
que acaricia, a música que não termina. E o coração, dentro do sonho, esquece a
pressa. Ele não precisa temer o negro da noite, pois sabe que ali tudo é
permanência disfarçada em passagem. O instante não escorre pelos dedos como a
carícia; ao contrário, é nos dedos que ele se fixa, como se a pele guardasse a eternidade.
Por isso, sonhar é deixar escorrer o
infatigável instante: é fundar um espaço onde o efémero descobre a sua raiz
eterna. É reconhecer que até a mais breve centelha contém, no fundo, a
claridade infinita. E ao acordar, trazemos na pele essa marca subtil – a lembrança
de que o eterno não mora no além, mas se esconde subtilmente dentro do
instante.
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Qué buena reflexión sobre ese sueño que nos alimenta el alma, y a veces hasta el cuerpo.
ResponderEliminarHay sueños tan reales que cuando despertamos nos sentimos como fuera de nosotros mismos, para al instante se disuelven y no recordar todo lo vivido.
Un fuerte abrazo, feliz noche