Os
amores não morrem. Apenas se recolhem, silenciosos, como pássaros cansados nas
sombras do crepúsculo, esperando o tempo certo para regressar. Há um instante
entre o dia e a noite em que o tempo parece suspenso, e é aí que o amor
adormece, com o coração ainda aceso sob o véu da bruma. Não há túmulo para o
amor. O que chamamos fim é apenas uma curva apertada na estrada do sentir. O
que parece esquecimento é repouso, o que parece distância é só um desvio
imprevisto do destino. Porque o amor, quando é verdadeiro, não se extingue –
transforma-se, discretamente, em lembrança que aquece o peito quando o mundo
faz frio. E então, um dia, sem aviso – um cheiro, uma voz, um pedaço de música
– acende o que parecia cinza. E o olhar, outrora inquieto e triste, volta a
brilhar. O amor acorda da penumbra, como o sol que insiste em nascer mesmo
depois da noite mais longa. E compreendemos, tarde talvez, que o amor não
parte: apenas recolhe as suas asas por um tempo, para regressar mais intenso,
mais maduro, mais inevitável.
albino santos
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