Acorda-me,
não o dia, mas um som leve, quase esquecido. O rumor de uma ave em movimento. E
nesse instante entre o sonho e o mundo, sinto no ar um presságio quente, uma
presença que se anuncia antes de chegar. Talvez sejas tu. Talvez sejas tu a
querer voar para os meus braços. Há em ti o sussurro de um voo contido, um
desejo antigo que não se esgota nas palavras. Sinto-te no vento que roça a
janela no instante em que a luz hesita, como se o universo estivesse à espera
da tua decisão. E eu, acordado por esse presságio de ave, estendo os braços sem
saber se te espero ou se apenas te imagino. Tu, feita de céu e de mistério,
tens em ti a leveza das coisas que nunca se prendem, mas também a rara doçura
de quem sabe pousar. Se vieres – se vieres até mim – que seja por desejo e não
por medo, por amor e não por refúgio. Que o teu voo seja escolha e os teus
braços, as asas fatigadas pelo tumulto do voo. E se for verdade esse rumor – se
fores mesmo tu, a aproximar-te em silêncio – então deixa que o mundo espere.
Porque entre o instante em que acordas e o momento em que me tocas, tudo em mim
se suspende.
~
albino santos
Teservados Todos os Direitos de Autor
albino, hermoso relato poético
ResponderEliminarQue todo quede en suspenso, hasta que ella vuele a tus brazos.
Besos
Há sons que não vêm do mundo, mas da memória do espírito. Esse “rumor de uma ave em movimento” que você Albino escuta entre o sono e a vigília é mais que metáfora: é alma reconhecendo alma, antes mesmo que os olhos se abram. Há uma sabedoria silenciosa em cada linha como se o texto soubesse que o amor verdadeiro não grita, nem prende, nem implora. Ele espera, mas espera com braços abertos, não com correntes.
ResponderEliminarLer isso é como lembrar de algo que nunca vivi, mas que mora em mim como quem um dia já foi ave e ainda se recorda do céu.
Lindamente escrito!
Com carinho
Fernanda
Soñada prosa, coherente con tu sensible intención poética una vez más...
ResponderEliminarAbrazo admirado, Poeta!!