EU NÃO ARDO NAS SOMBRAS, CONSTRUO ALVORADAS!...

quarta-feira, 16 de julho de 2025

O CANTO DO CISNE


 






Despenho-me nos teus lagos, como sombra que se afoga no espelho, quando para ti canta o cisne mais triste com a voz quebrada no fim da tarde. O som, grave e húmido escorre-me pela pele, como se o teu corpo estivesse ali, à distância de um sopro molhado. Busco-me em ti, como a febre que se deita na pele fresca, como a fome que aprendeu a conviver com o tempo da espera. E o desejo não pede licença, lambe-me as mãos, rasga-me os silêncios e faz do teu nome um feitiço que arde entre as coxas do tempo, e no amor que se esconde no musgo das margens. És lago, és abismo, és fogo que não se vê – mas que se adivinha no rumor do vento, no nevoeiro que tarda em partir, no calor que brota entre os juncos, nas aves que esvoaçam quando o gemido é mais fundo que o céu. O cisne canta sim, e no seu canto a noite cresce. Mas há um outro som mais longo e estridente. O da ausência a roçar-se em mim, com a textura exacta da tua pele, com o peso inteiro do que ainda nos falta viver. Se viesses agora, encontravas-me deitado na margem, como um poema inacabado, a pedir a tua boca como quem suplica um fim ou um princípio.



albino santos
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2 comentários:

  1. Hermoso poema, donde se cantó, llega, y se expande a través de las letras. Un feliz verano

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  2. Qué exquisito este texto poético, con esas imágenes tan potentes que surgen de tu pluma!
    belleza pura.
    Un beso grande.

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