EU NÃO ARDO NAS SOMBRAS, CONSTRUO ALVORADAS!...

sábado, 19 de julho de 2025

AO RITMO DE UM BLUES

Teus olhos – dois goles lentos de desejo – tocaram-me antes mesmo que qualquer palavra ousasse nascer entre nós. O mundo lá fora podia ruir. Aqui dentro, porém, tudo vibrava ao compasso rouco de uma canção arrastada, feita de corpo e alma. O tempo não corria, deslizava preguiçoso, pelos contornos do teu corpo. Cada gesto teu era um acorde grave, um gemido de saxofone perdido na madrugada. A música parecia feita só para nós. E eu, perdido em ti. Ali, no meio da noite, no meio do mundo. O ar era denso e macio, que nos envolvia num aroma delicado. O teu perfume era uma mistura de flor e fogo, bailava nas sombras, acendendo os instintos, embriagando cada espaço onde o som se deitava. Dançavas sem dançar, com aquele jeito de mulher que sabe que o silêncio pode gritar, que o olhar pode despir. O toque – ah… teu toque – era o solo mais lento e excitante que já senti. Como se teus dedos fossem as notas e o meu corpo o piano à espera de ser tocado. Não havia pressa. Só a cadência perfeita do desejo sincopado como quem desvenda um mistério antigo. Não precisávamos de palavras, só de compasso. Aquele compasso lento, que fazia teu corpo roçar no meu como uma provocação. E entre beijos breves que ardiam como um trago de “Jameson” na garganta, eramos dois acordes que se encontraram na mesma onda, na mesma vontade, na mesma canção. Tudo – tua boca, teu corpo, tua ausência de pudor e excesso de verdade, me fez crer que bastava um beijo mais ardente, um toque mais ousado para que o universo explodisse. Porém, quando a música terminou, viraste o rosto devagar, como quem encerra um feitiço, deixando no ar apenas o teu perfume e o calor do teu corpo ainda dançando em mim.

Tudo aconteceu  ao ritmo sensual de um blues.



albino santos
* Reservados Todos os Direitos de Autor


1 comentário:

  1. Albino… teu poema é música em carne viva.
    Lê-lo é como ouvir um blues com os olhos fechados, onde cada verso sussurra na pele e acende memórias que talvez nem existam, mas ainda assim queimam.
    A sensualidade aqui não é vulgar nem ruidosa é arte. É silêncio que grita, como disseste, e olhar que despe, com a força de quem conhece a linguagem dos corpos e das ausências.
    Há um compasso lento nessa escrita que embriaga. Um ritmo de desejo maduro, lúcido, feito para ser dançado no escuro por almas que se reconhecem mais pelo toque do que pelo nome.Obrigada por essa viagem feita de saxofone, perfume e mistério.
    Foi um privilégio ser leitora dessa noite.

    Com admiração,
    Fernanda

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