No fim do caminho, quando os passos
já não dormem e o horizonte se curva em silêncio, há uma ilha onde o tempo
abranda, onde os nomes se desfazem como conchas na espuma, e as memórias
adormecem no embalo do mar. Ali, o vento já não pergunta. Ele sabe. Ele sabe de
onde vieste, quem trazes na alma, que dores trazes no peito, que lutas trazes
nos olhos. E acolhe-te, como se fosses um barco cansado voltando ao cais. O sol
ali não queima, deixa apenas a filigrana das carícias, com dedos antigos de luz
quente e suave. A ilha é o repouso das vozes que emudeceram. Morre-se ali, sim,
como quem se deita depois de uma jornada. E adormecer é apenas mudar de céu,
como quem vira o rosto num lençol fresco. Morre-se devagar, como quem se
despede do corpo com reverência. O espírito, enfim liberto, parte com o vento
ancestral. As dores desaprendem os seus contornos. Os nomes amados, perdidos no
tempo, vêm ao encontro, translúcidos como lembranças. No fim do caminho há
sempre essa ilha. Não como castigo, mas como consolo. Um lugar onde já não se
precisa fugir, onde as saudades se desfazem na areia fina, onde o coração,
finalmente repousa. E assim se adormece, como quem desperta para dentro do
infinito.
albino santos
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