EU NÃO ARDO NAS SOMBRAS, CONSTRUO ALVORADAS!...

quarta-feira, 29 de outubro de 2025

A ILHA


           No fim do caminho, quando os passos já não dormem e o horizonte se curva em silêncio, há uma ilha onde o tempo abranda, onde os nomes se desfazem como conchas na espuma, e as memórias adormecem no embalo do mar. Ali, o vento já não pergunta. Ele sabe. Ele sabe de onde vieste, quem trazes na alma, que dores trazes no peito, que lutas trazes nos olhos. E acolhe-te, como se fosses um barco cansado voltando ao cais. O sol ali não queima, deixa apenas a filigrana das carícias, com dedos antigos de luz quente e suave. A ilha é o repouso das vozes que emudeceram. Morre-se ali, sim, como quem se deita depois de uma jornada. E adormecer é apenas mudar de céu, como quem vira o rosto num lençol fresco. Morre-se devagar, como quem se despede do corpo com reverência. O espírito, enfim liberto, parte com o vento ancestral. As dores desaprendem os seus contornos. Os nomes amados, perdidos no tempo, vêm ao encontro, translúcidos como lembranças. No fim do caminho há sempre essa ilha. Não como castigo, mas como consolo. Um lugar onde já não se precisa fugir, onde as saudades se desfazem na areia fina, onde o coração, finalmente repousa. E assim se adormece, como quem desperta para dentro do infinito.



albino santos
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