EU NÃO ARDO NAS SOMBRAS, CONSTRUO ALVORADAS!...

quarta-feira, 29 de outubro de 2025

A ILHA


           No fim do caminho, quando os passos já não dormem e o horizonte se curva em silêncio, há uma ilha onde o tempo abranda, onde os nomes se desfazem como conchas na espuma, e as memórias adormecem no embalo do mar. Ali, o vento já não pergunta. Ele sabe. Ele sabe de onde vieste, quem trazes na alma, que dores trazes no peito, que lutas trazes nos olhos. E acolhe-te, como se fosses um barco cansado voltando ao cais. O sol ali não queima, deixa apenas a filigrana das carícias, com dedos antigos de luz quente e suave. A ilha é o repouso das vozes que emudeceram. Morre-se ali, sim, como quem se deita depois de uma jornada. E adormecer é apenas mudar de céu, como quem vira o rosto num lençol fresco. Morre-se devagar, como quem se despede do corpo com reverência. O espírito, enfim liberto, parte com o vento ancestral. As dores desaprendem os seus contornos. Os nomes amados, perdidos no tempo, vêm ao encontro, translúcidos como lembranças. No fim do caminho há sempre essa ilha. Não como castigo, mas como consolo. Um lugar onde já não se precisa fugir, onde as saudades se desfazem na areia fina, onde o coração, finalmente repousa. E assim se adormece, como quem desperta para dentro do infinito.



albino santos
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16 comentários:

  1. Querido Albino,

    teu texto é um sopro de eternidade. Há nele um silêncio que fala, uma serenidade que só quem já olhou a morte de perto sem medo, mas com respeito consegue traduzir. Tu não escreveste sobre o fim, mas sobre o regresso: esse retorno amoroso ao princípio de tudo, onde o espírito se despe do corpo e se veste de luz.

    Essa tua “ilha no fim do caminho” é uma das imagens mais belas que já li. Nela, a morte deixa de ser abismo e se torna colo o colo do tempo, o colo de Deus, o colo de quem enfim compreendeu. As tuas palavras embalam, não assustam; confortam, não cortam.

    Obrigada por lembrar, com tanta delicadeza, que o último passo é também o primeiro despertar.

    Com carinho,
    Fernanda

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  2. Olá, poeta Albino!
    Quanta elegância!
    "Ali, o vento já não pergunta. Ele sabe. Ele sabe de onde vieste, quem trazes na alma, que dores trazes no peito, que lutas trazes nos olhos. E acolhe-te, como se fosses um barco cansado voltando ao cais."
    O 'vento' tem ética, charme, empatia, coisa que falta a muitos humanos.
    Gostei muito e o cenário tanto da foto como da sua prosa são refrescantes.
    Tenha dias abençoados!
    Abraços fraternos

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  3. Uma reflexão muito sincera e bem conseguida.

    O conteúdo do seu blog poético é muito interessante.

    Já estou entre seus amigos.

    Venha se juntar aos meus amigos comedores de lasanha. rsrsrsrs

    Abraços 🐾 Garfield Tirinhas Oficial.

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  4. Olá
    Que maravilha esta ilha!
    Quem não deseja encontrar assim uma que seja refugio, onde o tempo e as preocupações não tem peso.
    Que bom adormecer assim como quem desperta para dentro do infinito. Sublime.
    Abraço e brisas doces ****

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  5. Siempre tus letras calman, estimulan, acarician...
    Qué bien escribes, qué placer leerte!
    Un beso!

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  6. Hay islas que deberían enmarcarlas para que no se pudiera salir de ellas. Un precioso texto. Abrazos.

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  7. albino, que hermoso texto.
    Quiero terminar en esa isla, sentir la tibieza del sol y fundirme con todo el entorno para la eternidad.
    Es una delicia para el alma leerte, tus letras llegan como caricias, esperanzas y fe.
    Que pases un maravilloso día poeta.
    Besos

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  8. After finishing work, I saw this post, and it helped me feel calm. The photo is so calming, and your words are lovely. This is beautifully written, so peaceful and meditative. I love how the island feels like both an ending and a gentle beginning, a place of rest and solace. The imagery of the wind knowing your soul and the sun’s “filigree of caresses” is hauntingly delicate. Reading this, I felt a real sense of calm and reverence it’s like stepping into a quiet, sacred world.

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  9. Un lugar para encontrar la paz. te mando un beso.

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  10. Querido PoetaAlbino,
    Fiquei sensibilizada, realmente emocionada com o seu belissimo texto.
    Essa ilha trouxe conforto para meu coração. Lindissimo!!
    O teu olhar resignificou a morte!
    Beijos!

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  11. Si, es un placer leerte, un texto que te lleva hacia esa isla, donde quedarte para siempre.
    Que tengas un feliz jueves.
    Un abrazo

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  12. Un bello lugar para el descanso final, un abrazo Albino!

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  13. Oooh qué maravillosa isla!! Para renovarse, para revivir...
    Esa Isla es nuestro sueño, nuestro descanso, nuestra verdad!
    Fantástico leerte, Albino, siempre!
    Abrazo, estupendo jueves!!

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  14. Enmarcaste una prosa, otra más, amigo, plena de belleza y luminosa sensibilidad...
    Abrazo admirado una vez más!!

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  15. Olá caro A.S
    Muito tocante seu texto, gostei imenso.
    Tenha um excelente final de semana.
    Beijo!

    "Há beleza nessa ilha que descreve, esse lugar onde o fim não é fim, mas retorno. Onde o cansaço encontra ternura, e o silêncio se torna linguagem. As tuas palavras tocam o que há de mais íntimo no ser: o desejo de descanso, de dissolver-se na paz que o tempo não mede.
    Talvez todos nós caminhemos para essa ilha, sem pressa, com as marcas e as memórias que nos fizeram humanos. E quando lá chegarmos, não será o esquecimento que nos espera, mas o reencontro com o que fomos com quem amamos com o que permanece depois de tudo.
    No fim, o mar há de embalar cada alma como quem conta uma história antiga. E nessa última brisa, compreenderemos, enfim, que o infinito sempre nos habitou."

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  16. Oh, meu amigo… que texto celestial, um limiar entre a vida e a eternidade, onde toda a dor se dissolve delicadamente. Sinto-o como um abraco cosmico, um lugar onde a alma, cansada da viagem, pode finalmente descansar sem medo.
    Criou um hino ao descanso e a paz da alma apos a viagem; emocionou me profundamente! 🧚😘😘 🌷🌺🤗

    Feliz novembro!

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