Agora só a minha sombra pousa
em ti, como de uma carícia se tratasse. Ela desliza sobre a tua pele com a
suavidade da brisa, que não se vê, mas que se sente – essa presença invisível
que te toca sem pedir licença, que te percorre sem tu sentires, enquanto o luar
da noite, cúmplice e silencioso, ilumina o sensual contorno da tua nudez. A
minha ausência tornou-se um corpo leve, sombra errante que ainda te procura nos
reflexos do amanhecer. E quando o mundo se cobre dessa luz dourada, é como se o
tempo se suspendesse só para nos ver – eu reduzido a sombra, e tu, bela e nua,
com a minha sombra percorrendo o teu corpo. Ali, pousada docemente em ti, onde
outrora pousavam as minhas mãos – hesitantes, lentas, descobrindo-te como da
primeira vez.
Há no toque da minha sombra em
ti, uma memória e uma ternura antiga que o tempo não apaga, feita de desejo e
distância. Quisera que essa sombra tivesse calor, e que o seu perfil
obscurecido pudesse enrolar-se no teu sono, incendiar-te a pele como antes
fazia o meu corpo. Mas o que resta é isto: o eco de um toque, a lembrança que
insiste em permanecer, o murmúrio que se deita sobre ti, quando a noite declina
e o luar se derrama.
Ainda assim, há uma beleza infinita
neste quase nada – neste toque sem peso, neste roçar de ausência. Já que não
posso habitar-te, deixo que a minha sombra o faça por mim, com a ternura de
sempre. Que ela te envolva, lenta como uma confissão sem voz. E, quando a noite
se for e tudo se dissolver na penumbra, tu saibas que mesmo no escuro, continuo
a pousar-me, amorosamente, em ti.
albino santos
* Reservados Todos os Direitos de Autor
EU NÃO ARDO NAS SOMBRAS, CONSTRUO ALVORADAS!...
quinta-feira, 16 de outubro de 2025
A MINHA SOMBRA
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