EU NÃO ARDO NAS SOMBRAS, CONSTRUO ALVORADAS!...

segunda-feira, 13 de outubro de 2025

UM SONHO














           A noite cai como um véu morno, e no escuro há um pressentimento que me mantém desperto. Não é insónia, é desejo. Deito-me e chamo-te em silêncio, como quem invoca um feitiço. Quero que um sonho te traga até mim, sem barreiras, sem roupas, sem hesitação. Por fim, vejo-te surgir, etérea e ardente, como se a própria noite tivesse criado alguém para me possuir. És bruma e fogo, sombra e luz. Não caminhas, deslizas até mim, deixando no ar um perfume que é só teu – mistura de vertigem e desejo. Antes de me tocar já me inflamas. Teus olhos brilham como estrelas que sabem segredos antigos, e eu cedo antes mesmo de sentires a minha rendição.
          Quando te inclinas sobre mim, os teus lábios pousam na minha pele como um sopro incandescente. A tua língua é deliciosamente lenta, e tuas mãos exploram, primeiro leves, depois firmes, descobrindo penumbras que tremem sob os teus dedos. És sonho, mas moves-te como fosses a mais doce realidade; és névoa, mas o calor que deixas é real demais. Sinto o teu corpo nu fundir-se no meu, dançando sem música, só guiado pelo compasso ofegante da nossa respiração. Os teus quadris encontram os meus num ritmo que começa suave, quase ritual, depois cresce, incontrolável, como uma maré que nos arrasta. Cada gemido é um eco dentro de mim e cada suspiro teu acende outro ainda mais profundo.
             Não há palavra no mundo para o que somos agora. Há suor e luz, há febre e silêncio. Há um sonho possuindo o meu corpo, e o meu desejo tornando-se mais real do que qualquer amanhecer. Não sei se é delírio, mas sinto-te plena, e cada instante se prolonga até se perder no infinito de mim. E quando o climax chega, não é explosão – é dissolução. Somos um só corpo, um só sonho, um só grito sem voz. E então a madrugada, lenta e saciada, respira outra vez. Se fores sonho não despertes. Se fores real, nunca partas. Pois o que esta noite esperei, finalmente chegou – e dançou comigo até ao fim do tempo.


albino santos
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