Pela
manhã, o teu corpo ainda guardava a penumbra da noite, e o sol, tímido,
hesitava em pousar sobre a tua pele. Eu, imóvel, ao teu lado, sentia o peso
doce do silêncio e, nele, o ritmo sereno da tua respiração. Imaginei que
sonhavas. Não ousei tocar-te – não por falta de desejo, mas por um temor
sagrado, de quebrar a música que emanava do teu corpo enquanto sonhavas. Havia
em cada suspiro teu um poema, e eu o lia com os olhos fechados. O teu perfume
espalhava-se pela manhã, junto com o calor do teu corpo, e ao arrepio de tudo o
que fomos na noite anterior. Minha vontade era perder-me no contorno do teu
ventre, acender-me outra vez no lume da tua boca. Mas havia algo mais profundo
no silêncio – como se o próprio amor pedisse uma pausa para respirar contigo. Então
fiquei ali, sem mover um dedo, fechei os olhos a ver-te sonhar, e mesmo assim, te
possui inteiramente: Senti cada gesto do teu peito subindo e descendo, cada
murmúrio do sonho que te tocava por dentro. Descobri que te amo também assim –
sem pressa, sem invasão, apenas ouvindo o poema secreto que o teu corpo escreve, quando o mundo ainda dorme.
E
naquele instante, entendi que tocar-te também é um prazer sem mãos, um
arrebatamento que começa no coração e termina na pele. Pela manhã, eu não te
toquei. Mas ouvi – te suspirar, profundamente dentro do poema, e lá, meu amor, tu
me pertences inteiramente.
albino santos
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Uy que lindo me hiciste suspirar. Te mando un beso.
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