EU NÃO ARDO NAS SOMBRAS, CONSTRUO ALVORADAS!...

terça-feira, 7 de outubro de 2025

AMOR


              Pela manhã, o teu corpo ainda guardava a penumbra da noite, e o sol, tímido, hesitava em pousar sobre a tua pele. Eu, imóvel, ao teu lado, sentia o peso doce do silêncio e, nele, o ritmo sereno da tua respiração. Imaginei que sonhavas. Não ousei tocar-te – não por falta de desejo, mas por um temor sagrado, de quebrar a música que emanava do teu corpo enquanto sonhavas. Havia em cada suspiro teu um poema, e eu o lia com os olhos fechados. O teu perfume espalhava-se pela manhã, junto com o calor do teu corpo, e ao arrepio de tudo o que fomos na noite anterior. Minha vontade era perder-me no contorno do teu ventre, acender-me outra vez no lume da tua boca. Mas havia algo mais profundo no silêncio – como se o próprio amor pedisse uma pausa para respirar contigo. Então fiquei ali, sem mover um dedo, fechei os olhos a ver-te sonhar, e mesmo assim, te possui inteiramente: Senti cada gesto do teu peito subindo e descendo, cada murmúrio do sonho que te tocava por dentro. Descobri que te amo também assim – sem pressa, sem invasão, apenas ouvindo o poema secreto que o teu corpo escreve, quando o mundo ainda dorme.

      E naquele instante, entendi que tocar-te também é um prazer sem mãos, um arrebatamento que começa no coração e termina na pele. Pela manhã, eu não te toquei. Mas ouvi – te suspirar, profundamente dentro do poema, e lá, meu amor, tu me pertences inteiramente.



albino santos
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