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segunda-feira, 27 de outubro de 2025

NA PRAIA DESTES ANOS


 














Na praia destes anos, o horizonte abre-se como uma ferida lenta, sempre azul e sempre distante. O vento trás consigo o rumo das horas esquecidas, como se cada sopro fosse um recado dos dias que se perderam no silêncio. Caminhamos sobre a areia fina, e cada grão parece contar uma história, um instante que nos escapou entre os dedos, como se o tempo fosse feito apenas de fugas.

         Olhamos as pétalas do tempo com melancolia e tristeza. Elas caem, uma a uma, da árvore invisível da vida, e repousam em nós como um delicado luto. Não são apenas lembranças – são perfumes que já não voltam, são gestos suspensos, são vozes que se apagaram no eco das madrugadas. E no entanto, há uma beleza secreta nesse cair: como se a própria finitude fosse a prova de que existimos intensamente.

        A tristeza acompanha o rumor da maré baixa. É uma música abafada que insiste em permanecer, mesmo quando fingimos esquecê-la. Ela nos ensina a contemplar o que se perdeu, e a guardar no mais íntimo, o que nunca poderá ser tocado de novo. Há algo de sagrado nesse olhar: como se as perdas fossem destino, e cada memória, uma chama que se recusa a extinguir.

        Assim seguimos, à beira do mar, recolhendo pétalas invisíveis, sabendo que cada passo é também despedida. Mas entre a melancolia e o silêncio, uma ternura secreta permanece: o reconhecimento do que tudo o que se desfaz na areia do tempo floresce em nós, como maré que nunca deixa de retornar.



albino santos
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5 comentários:

  1. Albino,

    O texto é uma delicada meditação sobre o tempo, a memória e a melancolia, construída com imagens poéticas de grande força sensorial. Desde a abertura, a praia é apresentada como um espaço simbólico: “o horizonte abre-se como uma ferida lenta, sempre azul e sempre distante”. Há aqui uma dualidade de beleza e dor, de proximidade e distância, que estabelece o tom reflexivo do texto. O horizonte não é apenas físico, mas emocional, representando aquilo que nos escapa e que nos marca silenciosamente.

    O uso do vento como mensageiro do tempo e das “horas esquecidas” reforça essa sensação de passagem e efemeridade. Cada grão de areia se torna um fragmento de memória, um instante que escapa, sugerindo que o tempo é percebido não como um fluxo uniforme, mas como uma sucessão de perdas e descobertas. A atenção aos detalhes sensoriais areia, vento, maré transforma o texto em uma experiência quase tátil, que convida-nos a caminhar junto com o narrador.

    A segunda estrofe intensifica a reflexão, com a imagem das “pétalas do tempo” que caem da “árvore da vida”. Você Albino, consegue aqui unir poesia e filosofia, mostrando que a melancolia não é apenas tristeza, mas um meio de reconhecimento da existência intensa: as perdas e lembranças, mesmo efêmeras, conferem sentido ao viver. O uso de metáforas sensíveis perfumes, gestos suspensos, vozes apagadas reforça o caráter íntimo e reflexivo do texto, tornando a experiência do tempo palpável.

    Na terceira estrofe, a tristeza é personificada como música abafada que permanece apesar da tentativa de esquecê-la. Essa musicalidade invisível do texto sugere que há aprendizado e contemplação na perda, transformando a melancolia em um sentimento sagrado, quase ritualístico. Cada memória se torna uma “chama que se recusa a extinguir”, expressão que traduz a persistência da vida interior diante da efemeridade do mundo externo.

    O fechamento do texto retoma a caminhada à beira-mar, desta vez enfatizando a ternura que permanece mesmo entre a melancolia e o silêncio. Há uma reconciliação delicada com o tempo: a consciência de que tudo que se desfaz “floresce em nós, como maré que nunca deixa de retornar”. A metáfora da maré encerra o texto com uma sensação de ciclo e continuidade, equilibrando a melancolia com uma espécie de esperança silenciosa e contemplativa.

    Em resumo, você constrói um texto que é ao mesmo tempo poético e filosófico, sensível e denso, com imagens que se entrelaçam para transmitir a experiência do tempo, da memória e da perda. Cada frase parece cuidadosamente medida para evocar a melancolia e a beleza do efêmero, convidando a sentir o peso e a ternura do existir.

    Lindo meu amigo!
    Fernanda

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  2. Esa melancolía y tristeza es la que yo padezco, llevo en mi corazón mi trocito de mar, donde volvería de nuevo, el mar es mágico, aquí en la ciudad un mar de ruidos, pero es lo que toca, estoy deseando de nuevo volver a mi bahía. Pero dentro de mi van esos pétalos sobre las arenas para que florezcan de nuevo, así es la vida, morir y renacer.
    Un fuerte abrazo y feliz semana

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  3. Nostalgia con una esperanza cosida al alma. Muy bonito tu relato, Albino.
    Besicos muchos.

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  4. Un paseo por recuerdos bohemios, donde el alma libre se sacia de esa libertad que da mirar al horizonte y ver esa inmensa masa de agua azulada que nos transporta a viejas , amores, deseos inolvidables. En definitiva, un recorrido por la memoria de los sentimientos.
    Un abrazo.

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  5. Todos llevamos en el corazón un trozo de melancolía por lo que hemos perdido,por lo que extrañamos y sabemos que no ha de volver...
    Precioso relato!
    Besos

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