Enquanto os minutos se
espreguiçam
pelas tardes
um desejo indolente
amadurece nas margens do vento
como pétalas de outono que florescem
como se fosse primavera.
Deitam-se no veludo do ventre
e concentram em si
todos os sabores do fruto repousado.
Num gesto de audácia ainda pura
o corpo revela sem pudor
a usura dos prados. E tu és a sede,
a fonte, a sombra fascinante
que logo se expande
num prazer devasso e latejante.
Por entre subtis pétalas de sombra
há um fruto que espera,
maduro e sedutor como horas de outono
descendo lentamente pelas tardes.
albino santos
* Reservados Todos os Direitos de Autor
POLYEDRO
EU NÃO ARDO NAS SOMBRAS, CONSTRUO ALVORADAS!...
segunda-feira, 18 de novembro de 2024
HORAS DE OUTONO
segunda-feira, 11 de novembro de 2024
O ÚLTIMO VOO...
É
noite. Aqui, junto ao mar o vento parou, mas uma gaivota ainda esvoaça
assustada sobre a minha cabeça. Fecho os olhos e recordo o caminho onde tantas
vezes nos perdemos no impudor dos nossos sonhos. Em cada noite se morre mais um
pouco na palavra ausente e o silêncio é sempre mais profundo em cada amanhecer.
És agora cada vez mais inatingível dentro de mim. Foram amputados os meus
sentidos quando o nosso último voo aconteceu. Um bater de asas tudo sugou para
o mais profundo dos abismos despedaçando todas as lembranças. O tempo deixa de
existir, quando se morre assim dentro do sonho, com carícias ainda nos dedos e
com o sabor do beijo dentro da boca. As estrelas e a lua velam-me o sono, até
que do abismo se solte uma ave plena de amor e luz, que voe livre, em espirais
de fogo para dentro do meu peito!
albino santos
* Reservados Todos os Direitos de Autor
segunda-feira, 4 de novembro de 2024
... E SE UM ADEUS HOUVER
Ao sol tardio de outono
na ânsia de abraçar quanto podia
dei-te o mais secreto e estranho beijo.
Mas tanto exigimos às breves carícias
que nos perdemos na vertigem
do beijo amachucado
e ficamos sem mãos antes do tempo,
sem uma palavra,
sem um rumor de pálpebras.
Dissipou-se na pele
o perfume vivo dos nossos corpos.
Aturdidos em silêncio
tudo declinou e empalideceu
e veio o vento magoar-nos
com a frieza de olhares silenciosos.
E se um adeus houver
talvez tudo se perca no rumor da água,
por nada de eterno haver entre os lábios.
albino santos
* Reservados Todos os Direitos de Autor
segunda-feira, 28 de outubro de 2024
ALÉM DO SONHO
Talvez seja além do sonho que tu existes,
lugar amplo demais na extensão
do meu curto olhar.
Tu, que me ensinaste a entrar
na deliciosa clareira das sombras
onde a luz nos deixa ver
a mais íntima nudez
e me levaste em delírio entre as estrelas,
traz agora a manhã da minha noite
e amanhece comigo nas brechas
do inquieto sono que me roubas,
porque é tanta a noite
que sobra nos meus braços!
albino santos
* Reservados Todos os Direitos de Autor
segunda-feira, 21 de outubro de 2024
AMANHECE...
Amanhece…
na pele todos os poemas ainda queimam.
Cada raio de sol que entra pela janela
é como um sopro sobre o fogo,
reacendendo o verso
que insiste em ser chama.
Tudo se transforma num solfejo de luz,
como se uma matinal melodia
despertasse no silêncio
um ímpeto de fulgor.
Com o aroma da madrugada
devassando o ar,
esquecemos que existe um tempo
para o amanhecer,
um patamar para a claridade.
A noite teima em brincar no nosso corpo,
chama por nós…
é só tempo de fechar a janela
escurecer secretamente o dia
e reinventar o prazer
na luz transfigurada da manhã…
albino santos
* Reservados Todos os Direitos de Autor
segunda-feira, 14 de outubro de 2024
O POEMA
Nunca estarás oculta dentro
do meu poema!
Escondida por detrás das sílabas
há uma voz insubmissa
que sem pudor se insinua
nas palavras nuas do poema.
Com a noite a iluminar-te o rosto,
leio no teu olhar disperso
tudo o que ainda não disseste
e no teu dorso nu escrevo o verso.
E o poema surge
suave como o resvalar dos dedos
como se fosses tu
mordendo as palavras
atiçando os meus sentidos
derramando sedução e desejo
no vermelho carmim da tua boca
até que o poema se inflama
como um beijo irreprimível
que suga toda a noite.
* Reservados Todos os Direitos de Autor
segunda-feira, 7 de outubro de 2024
NA SOMBRA DOS TEUS OLHOS
Suavemente
ao longo do teu rosto
há um desejo que amadurece
na sombra dos teus olhos.
No seu vago rumor
as palavras são pétalas de vento
breves no sabor dos lábios.
Ah!... Pudera eu
abraçar as tuas palavras com as minhas
e num gesto de audácia ainda pura
colher o desejo
na ternura dos teus olhos
para sentir o prazer de viajar
nas brisas interditas
que fazem a delícia de lábios sequiosos.
~
albino santos
* Reservados Todos os Direitos de Autor