Contemplo a noite. Sento-me no
canto da tua alma esperando pelos tímidos ecos que às vezes me chegam de ti.
Como não esperar, se é em ti que estremeço quando me afundo na bruma nocturna
que me humedece o rosto? Como não esperar, se às vezes te sinto tão perto que
chego a sentir o teu respirar em mudos apelos? Como não esperar, se sinto os
lábios ansiosos sem ter onde pousar um beijo sem destino? Sei que tudo será
breve como a brevidade com que me respiras. Mas nós sabemos como eternizar os
momentos que acrescentam luz às trevas, que esculpem os sonhos impossíveis e
param o tempo adormecido no crepúsculo das horas. Talvez adormeça. Mas acordarei
de novo com meus abismos vivos, com as mesmas dúvidas, com os caminhos falsamente
limpos, devassados pelas rugas do tempo que, pouco a pouco, foi mutilando cada
um dos nossos sonhos. Serei talvez o descrente em que me tornei, trazendo nas
mãos carícias quase sempre inábeis, um absurdo poeta que pensa ter encontrado a
luz e a palavra exacta para cada gesto que te traga até mim…
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albino santos
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