Deve
haver, algures, uma nascente escondida, uma fonte primordial onde brota a água
que me percorre. Não sei onde nasce – se no fulgor do teu olhar, se no silêncio
que se instala quando a tua boca adivinha a minha. Apenas sei que em ti tudo
corre, tudo flui, tudo me alcança, como um rio que sempre encontra o caminho
para o mar. És a nascente invisível que me surpreende no gesto mais simples: no
modo como deslizas os dedos pelas tuas margens quando a noite se cobre de
sedução. É aí que começa a corrente que me envolve e atravessa com as águas
rugosas de Setembro. E eu, ao receber-te, torno-me num mar imenso, de águas
claras a arder ao vento. Um mar que abre uma enseada para receber o curso
rebelde e infatigável das tuas águas, e se deixa moldar pelo ímpeto da corrente.
Sinto que és nascente e rio, vens de longe, de lugares que desconheço, e no
entanto é em mim que desaguas, é em mim que repousas. Não importa onde começa a
tua água, o que importa é que nela me reconheço, nela me recrio, e nela me
perco para me encontrar. Não és apenas a água que se dissolve em mim e mata a
minha sede, és também a sede que me estimula a vida. És o rumor incessante do
rio que me atravessa, és o segredo eterno da longínqua nascente que não preciso
ver para saber que existe – porque em cada gesto teu, o mundo inteiro começa a
correr ternamente em mim.
albino santos
* Reservados Todos os Direitos de Autor
Has convertido el agua en un micro de seducción artesanal. Genial, te felicito.
ResponderEliminarUn abrazo.