AMOR EM TRANSGRESSÃO

 

Apesar da hora, o sol é tímido e o Porto dorme. Aqui, onde não há nuvens, respira-se o silêncio sob o olhar minucioso de Vénus. Quantas vezes me sentei de olhos fechados a ouvir Schubert e me lembrei de ti. Quantas vezes o céu me mostrou a luz dos teus olhos, e eu não o terei percebido. Quantas vezes, sem o saberes, andaste por dentro do meu peito, ajudando-me a suportar a solidão das noites. Invariavelmente, as asas do meu sonho voam sempre para junto das tuas. Já conhecem o rumo e há muito que perderam o medo dos abismos. Aqui, as noites e a poesia se juntam na cumplicidade das mãos que se apertam e se prometem amar. E tudo se transforma em paixão e desejo. Os lábios tocam-se, as bocas se reconhecem, os lábios se encontram, as línguas se descobrem e a vida ganha um novo sabor no calor do beijo. Abraçados, em movimentos ondulantes, nossos corpos se ajustam e se completam pela respiração ofegante e pelos murmúrios que ecoam na noite. É tempo de viver este amor em transgressão. É tempo de viver o fogo dos poentes incendiando as noites. É tempo de sentir as carícias que sabem a uma sede feliz!

albino santos
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