Há lugares que não são feitos
de geografia, mas de emoção. São lugares de puro encanto onde o mundo parece
suspenso. Há neles momentos que não pertencem ao tempo, mas ao amor. Entre a praia
e o luar há um espaço onde o tempo não se apressa – um intervalo de silêncios
doces e promessas por cumprir. É lá que os meus sonhos se deitam, como conchas
à espera da maré certa. O sal do mar cobre-lhes a pele e o vento murmura
segredos antigos, sussurrados por quem já amou demais. O luar, espelho divino
no céu, derrama-se sobre a areia como um afago que nunca se foi. Ilumina a
filigrana dos contornos do que ainda não vivi e pinta com prata os desejos que
me habitam. Às vezes, os sonhos dançam com a espuma das ondas; outras vezes,
adormecem comigo na solidão dos rochedos, embalados pelo murmúrio contínuo do
mundo. Ao longe, há um farol que nunca se apaga – é o coração a resistir, a
indicar o caminho quando me perco de mim. E quando isso acontece, sinto que o
universo respira fundo, preso entre o som do mar e o perfume salgado da noite.
Sento-me então entre a brisa e o infinito, a recordar os sonhos que já tive, a
ouvir os passos que não dei, a pensar as palavras que nunca te disse, esperando
que o mar as leve até às ondas onde, também tu, talvez sonhes comigo.
albino santos
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