AS TUAS PALAVRAS

 

Gosto de receber as tuas palavras. Preciosas e impenetráveis. Feitas à medida de tudo quanto me faltava ainda encontrar. Elas, alimentam a planta que fizeste nascer em mim e onde a seiva escasseia, talvez por ter nascido na vertigem do sonho ou no pulsar inquieto das sílabas. É uma planta que persiste, resistindo à sede das raízes, gritando sob as veias dormentes do silêncio. Talvez as palavras saibam que dentro das folhas há uma vida secreta de amor e luz, que pode florescer, como um ser que desperta de novo para a vida. E na frágil penugem dos estames, pode-se ver a pureza de um sono lúcido e reviver momentos que queimam a memória, onde o sonho habita as noites e o desejo emana na cumplicidade das palavras ocultas no crepúsculo das horas. Talvez seja esta planta que ainda dá sentido à vida, que acrescenta luz às trevas, que esculpe o sonho e tudo o que se escreve em nós. Fulgurante, ardente e nua, ela enlaçará os nossos corpos em ternos afagos, dilacerando todas as penumbras.

albino santos
* Reservados Todos os Direitos de Autor