Há uma música de
fogo em redor dos teus lábios – e não há nome para o que sinto quando a escuto.
É como se o mundo parasse de girar só para que esse calor existisse, um calor
que não queima – encanta. Um fogo que não destrói – envolve. E eu, perdido nessa
órbita onde a tua boca se faz sol, sou apenas matéria rendida à gravidade do seu fulgor. Cada gesto teu é um acorde lento. Cada palavra, uma nota de seda
que me atravessa a pele como um suspiro. A melodia que vibra à flor dos teus
lábios tem o timbre exacto do desejo, sussurrado entre duas almas que se
reconhecem antes do olhar…antes de tudo. E se me falas, o mundo derrete. Se te
calas, a tua boca continua como uma brisa que respira em silêncio. O contorno
dos teus lábios é um poema delicado como filigrana, como se a paixão soubesse
dançar sobre o fio de uma harpa feita de lume. E eu ouço-te com o corpo
inteiro, mesmo quando não dizes nada. E quando me olhas, sinto a vibração
do teu fogo a percorrer-me, lento, de dentro para fora, como se fosses feita de
um som místico, de uma linguagem secreta que só o meu corpo entende. És um
beijo que ainda não foi, mas já existe em todas as minhas memórias. Tocar teus
lábios, seria tocar o próprio centro da luz. Como mergulhar no teu calor e sair
de lá com o corpo em chamas. Como se o universo inteiro se condensasse na
superfície delicada da tua boca e esperasse quieto pela minha. Há uma música de
fogo em redor dos teus lábios – e ela entra, queima, marca. E eu deixo que me
consumas devagar, porque quero arder nos teus lábios, até ao fim.
albino santos
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