EU NÃO ARDO NAS SOMBRAS, CONSTRUO ALVORADAS!...

quinta-feira, 3 de julho de 2025

QUANDO CHEGAS DISSOLVEM-SE AS TREVAS



Quando chegas dissolvem-se as trevas. Os teus olhos tecem a luz como quem borda o alvorecer sobre a pele da noite. Não precisas dizer palavra – és claridade em forma de presença. Trazes contigo uma luz que não se vê - sente-se. Atravessa-me. Rasga a sombra dentro de mim com a delicadeza de quem sabe exactamente onde te quero… Há em ti uma alvorada que me fascina. Quando te aproximas, tudo em mim se despe da ausência – o corpo acende-se em planícies férteis onde antes tudo era um árido deserto. Os teus passos sobre o chão têm o peso exacto da ternura, e o teu olhar toca-me com a suavidade de uma mão invisível. Deslizas pelos meus dias como o vento morno sobre os campos – sem pressa, mas com o rumo certo. E eu deixo-me colher, aberto como uma flor à tua luz. Há em cada gesto teu um erotismo doce, uma vertigem delicada que me envolve e fascina. És água em sede antiga e eu bebo-te até onde consigo e além do que ouso. És o princípio e o fim da minha inquietação. Chegas e tudo se transfigura. A tua pele, um livro que leio com os dedos. O teu riso, a música quente e deliciosa de um blues que me devolve a luz e o prazer da vida.
Sim, quando chegas dissolvem-se as trevas. E eu, curvo-me em silêncio diante da tua luz – não por submissão, mas por reconhecimento. E não há refúgio possível, porque em ti encontrei o exílio mais doce. Sou corpo anoitecido que resplandece para ti. E, diante da tua luz, ergo a voz embargada de gratidão por seres sol e chama, mar que me arrebata das trevas, fúria que me guia à paz – és o meu tudo e o meu quase nada, mas sobretudo és a luz que teces em mim de cada vez que te amo.


albino santos
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