Quando
chegas dissolvem-se as trevas. Os teus olhos tecem a luz como quem borda o
alvorecer sobre a pele da noite. Não precisas dizer palavra – és claridade em
forma de presença. Trazes contigo uma luz que não se vê - sente-se.
Atravessa-me. Rasga a sombra dentro de mim com a delicadeza de quem sabe
exactamente onde te quero… Há em ti uma alvorada que me fascina. Quando te
aproximas, tudo em mim se despe da ausência – o corpo acende-se em planícies
férteis onde antes tudo era um árido deserto. Os teus passos sobre o chão têm o
peso exacto da ternura, e o teu olhar toca-me com a suavidade de uma mão
invisível. Deslizas pelos meus dias como o vento morno sobre os campos – sem pressa,
mas com o rumo certo. E eu deixo-me colher, aberto como uma flor à tua luz. Há
em cada gesto teu um erotismo doce, uma vertigem delicada que me envolve e
fascina. És água em sede antiga e eu bebo-te até onde consigo e além do que
ouso. És o princípio e o fim da minha inquietação. Chegas e tudo se transfigura.
A tua pele, um livro que leio com os dedos. O teu riso, a música quente e
deliciosa de um blues que me devolve a luz e o prazer da vida.
Sim, quando chegas dissolvem-se as trevas. E eu, curvo-me em silêncio diante da
tua luz – não por submissão, mas por reconhecimento. E não há refúgio possível,
porque em ti encontrei o exílio mais doce. Sou corpo anoitecido que
resplandece para ti. E, diante da tua luz, ergo a voz embargada de gratidão por
seres sol e chama, mar que me arrebata das trevas, fúria que me guia à paz – és
o meu tudo e o meu quase nada, mas sobretudo és a luz que teces em mim de cada
vez que te amo.
albino santos
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