EU NÃO ARDO NAS SOMBRAS, CONSTRUO ALVORADAS!...

quarta-feira, 30 de julho de 2025

UMA MÚSICA DE FOGO



 

























Há uma música de fogo em redor dos teus lábios – e não há nome para o que sinto quando a escuto. É como se o mundo parasse de girar só para que esse calor existisse, um calor que não queima – encanta. Um fogo que não destrói – envolve. E eu, perdido nessa órbita onde a tua boca se faz sol, sou apenas matéria rendida à gravidade do seu fulgor. Cada gesto teu é um acorde lento. Cada palavra, uma nota de seda que me atravessa a pele como um suspiro. A melodia que vibra à flor dos teus lábios tem o timbre exacto do desejo, sussurrado entre duas almas que se reconhecem antes do olhar…antes de tudo. E se me falas, o mundo derrete. Se te calas, a tua boca continua como uma brisa que respira em silêncio. O contorno dos teus lábios é um poema delicado como filigrana, como se a paixão soubesse dançar sobre o fio de uma harpa feita de lume. E eu ouço-te com o corpo inteiro, mesmo quando não dizes nada. E quando me olhas,  sinto a vibração do teu fogo a percorrer-me, lento, de dentro para fora, como se fosses feita de um som místico, de uma linguagem secreta que só o meu corpo entende. És um beijo que ainda não foi, mas já existe em todas as minhas memórias. Tocar teus lábios, seria tocar o próprio centro da luz. Como mergulhar no teu calor e sair de lá com o corpo em chamas. Como se o universo inteiro se condensasse na superfície delicada da tua boca e esperasse quieto pela minha. Há uma música de fogo em redor dos teus lábios – e ela entra, queima, marca. E eu deixo que me consumas devagar, porque quero arder nos teus lábios, até ao fim.


albino santos
* Reservados Todos os Direitos de Autor

segunda-feira, 28 de julho de 2025

OS MALMEQUERES FLORIRAM ESTA NOITE


Os malmequeres floriram esta noite. Ninguém os viu nascer, e ainda assim, lá estavam eles, despertos sob a vigília das estrelas, como se a própria lua tivesse soprado vida sobre os seus botões adormecidos. O campo, que na véspera dormia silencioso em tons de cinza e cansaço, hoje sussurra uma alegria antiga, quase sagrada, como um cântico esquecido reencontrando a sua memória. Havia um perfume novo no ar como se o campo, adormecido por dias cinzentos, tivesse sonhado contigo. O teu nome estava em tudo: no modo como as pétalas se abriram, na doçura do vento que passava sem fazer barulho, no voo alucinado das borboletas. Foi ali, entre a beleza tímida dos malmequeres, que compreendi que o amor também tem raízes invisíveis e floresce quando já não esperamos. Não com alarde, nem com promessas, mas com a serena tranquilidade de quem sabe que o impossível não existe. Cada malmequer parecia uma carta escrita à mão, de um tempo em que o amor era mais palavra do que gesto. Lembrei-me de ti e reencontrei o teu aroma, como um verso esquecido que o coração ainda sabe de cor. Lembrei-me como sorrias quando vias flores na beira da estrada, como se fossem presentes postos pelo mundo só para ti… e talvez ainda sejam.Talvez tivesses sido tu, mesmo sem saber, quem acendeu a ternura nas raízes e despertou este milagre. Talvez o teu nome seja um feitiço secreto que só a terra entende. Ou talvez o campo, comovido, tenha decidido florir só para que eu não te esquecesse. Caminhei devagar entre os malmequeres, com receio de pisar algum sonho escondido. Senti os pés tocarem a terra com delicadeza. Fechei os olhos. Disse o teu nome em voz baixa. E os malmequeres se inclinaram um a um, como quem escuta um segredo e anuncia um presságio.



albino santos
Reservados Todos os Direitos de Autor

quinta-feira, 24 de julho de 2025

PROXIMIDADES

Aproximas-te como sílaba incendiada no feno, como quem se revela no campo da minha solidão. Vieste com a luz dos presságios e o rumor das antigas promessas, rompendo o véu dos dias comuns como um rasgão de prata cortando o murmúrio vegetal das searas. E desde então, nada em mim permaneceu incólume. Trazias contigo o fascínio da linguagem oculta do amor – aquela que se diz nos intervalos, nas pausas, nos olhares que se detêm mais do que o necessário. És feita da matéria dos mistérios, de silêncios eloquentes, de gestos que acenam para o indizível. E quando te aproximas, há um júbilo de emoções que faz crescer em tumulto um rio de esperanças. O tempo cede, e tudo em mim se recolhe para te escutar.  A tua voz, é como a brisa que percorre as folhas altas ao entardecer como um rumor discreto. Falas com os olhos antes de qualquer palavra, e eu compreendo cada sílaba muda que escapa desse silêncio. Há uma linguagem secreta, feita de demoras que só os amantes reconhecem. E, no entanto, é o teu silêncio que mais me fere – não com dor, mas com uma sede suave, com essa forma subtil de desejo que antecede o toque e que, por vezes, o excede. Em ti, o amor não se apressa, insinua-se como quem conhece os ritos de espera, da contemplação, do encantamento. Move-se como carícias ágeis entre os dedos, como hálito sobre a pele que anseia ser tocada. Há uma nobreza no teu corpo que não se limita à forma – é uma essência mística, uma beleza que não clama, mas impõe. Nos teus gestos há uma harmonia que me desconcerta e, no teu perfume, um sortilégio que me convoca aos antigos mitos. Não és apenas mulher, és sonho, musa, epifania. E diante de ti me confesso ferido de paixão. És chama e sombra, alvorada e segredo. E eu, na minha humanidade imperfeita, repouso o meu olhar nos contornos sensuais da tua boca, com um desejo sereno como as antigas cantigas medievais, ardente como as cartas de um poeta enamorado.


albino santos
* Reservados Todos os Direitos de Autor

terça-feira, 22 de julho de 2025

O LADO CONJUGAL DA NOITE


Busco em ti o lado conjugal da noite – aquele que não se mostra aos olhos apressados, mas que se revela na doce cumplicidade de um gesto lento. É na penumbra do teu silêncio que encontro o abrigo para o meu cansaço, o colo onde a sombra se deita sem medo, onde até o silêncio tem corpo e calor. Há em ti uma morada que não tem paredes, mas pulsa por dentro como um coração apaixonado. É aí que me recolho quando o mundo pesa, quando as horas arrastam correntes e a alma pede descanso. Não falo de promessas nem rituais. Falo de um estar simples e verdadeiro, como o céu que cobre o mar sem nada lhe pedir. És a noite em que me desfaço das máscaras, onde me desnudo para que tudo seja ainda mais real. Cada palavra que não dizes ecoa em mim como um verso antigo e cada suspiro teu é um convite à entrega sem cláusulas, ao amor que não se pode mais conter. No nosso peito, a noite é conjugal porque se partilha. Porque entre nós, a escuridão não é ausência de luz, mas espaço para deixar brilhar o que é grande demais. E ali, deitados no tempo, já não sou eu nem tu – somos apenas o mágico cansaço de uma bela noite de amor.



albino santos
* Reservados Todos os Direitos de Autor

sábado, 19 de julho de 2025

AO RITMO DE UM BLUES

Teus olhos – dois goles lentos de desejo – tocaram-me antes mesmo que qualquer palavra ousasse nascer entre nós. O mundo lá fora podia ruir. Aqui dentro, porém, tudo vibrava ao compasso rouco de uma canção arrastada, feita de corpo e alma. O tempo não corria, deslizava preguiçoso, pelos contornos do teu corpo. Cada gesto teu era um acorde grave, um gemido de saxofone perdido na madrugada. A música parecia feita só para nós. E eu, perdido em ti. Ali, no meio da noite, no meio do mundo. O ar era denso e macio, que nos envolvia num aroma delicado. O teu perfume era uma mistura de flor e fogo, bailava nas sombras, acendendo os instintos, embriagando cada espaço onde o som se deitava. Dançavas sem dançar, com aquele jeito de mulher que sabe que o silêncio pode gritar, que o olhar pode despir. O toque – ah… teu toque – era o solo mais lento e excitante que já senti. Como se teus dedos fossem as notas e o meu corpo o piano à espera de ser tocado. Não havia pressa. Só a cadência perfeita do desejo sincopado como quem desvenda um mistério antigo. Não precisávamos de palavras, só de compasso. Aquele compasso lento, que fazia teu corpo roçar no meu como uma provocação. E entre beijos breves que ardiam como um trago de “Jameson” na garganta, eramos dois acordes que se encontraram na mesma onda, na mesma vontade, na mesma canção. Tudo – tua boca, teu corpo, tua ausência de pudor e excesso de verdade, me fez crer que bastava um beijo mais ardente, um toque mais ousado para que o universo explodisse. Porém, quando a música terminou, viraste o rosto devagar, como quem encerra um feitiço, deixando no ar apenas o teu perfume e o calor do teu corpo ainda dançando em mim.

Tudo aconteceu  ao ritmo sensual de um blues.



albino santos
* Reservados Todos os Direitos de Autor


quarta-feira, 16 de julho de 2025

O CANTO DO CISNE


 






Despenho-me nos teus lagos, como sombra que se afoga no espelho, quando para ti canta o cisne mais triste com a voz quebrada no fim da tarde. O som, grave e húmido escorre-me pela pele, como se o teu corpo estivesse ali, à distância de um sopro molhado. Busco-me em ti, como a febre que se deita na pele fresca, como a fome que aprendeu a conviver com o tempo da espera. E o desejo não pede licença, lambe-me as mãos, rasga-me os silêncios e faz do teu nome um feitiço que arde entre as coxas do tempo, e no amor que se esconde no musgo das margens. És lago, és abismo, és fogo que não se vê – mas que se adivinha no rumor do vento, no nevoeiro que tarda em partir, no calor que brota entre os juncos, nas aves que esvoaçam quando o gemido é mais fundo que o céu. O cisne canta sim, e no seu canto a noite cresce. Mas há um outro som mais longo e estridente. O da ausência a roçar-se em mim, com a textura exacta da tua pele, com o peso inteiro do que ainda nos falta viver. Se viesses agora, encontravas-me deitado na margem, como um poema inacabado, a pedir a tua boca como quem suplica um fim ou um princípio.



albino santos
* Reservados Todos oa Direitos de Autor



segunda-feira, 14 de julho de 2025

UM LEVE RUMOR

 


Acorda-me, não o dia, mas um som leve, quase esquecido. O rumor de uma ave em movimento. E nesse instante entre o sonho e o mundo, sinto no ar um presságio quente, uma presença que se anuncia antes de chegar. Talvez sejas tu. Talvez sejas tu a querer voar para os meus braços. Há em ti o sussurro de um voo contido, um desejo antigo que não se esgota nas palavras. Sinto-te no vento que roça a janela no instante em que a luz hesita, como se o universo estivesse à espera da tua decisão. E eu, acordado por esse presságio de ave, estendo os braços sem saber se te espero ou se apenas te imagino. Tu, feita de céu e de mistério, tens em ti a leveza das coisas que nunca se prendem, mas também a rara doçura de quem sabe pousar. Se vieres – se vieres até mim – que seja por desejo e não por medo, por amor e não por refúgio. Que o teu voo seja escolha e os teus braços, as asas fatigadas pelo tumulto do voo. E se for verdade esse rumor – se fores mesmo tu, a aproximar-te em silêncio – então deixa que o mundo espere. Porque entre o instante em que acordas e o momento em que me tocas, tudo em mim se suspende.

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albino santos
Teservados Todos os Direitos de Autor


quarta-feira, 9 de julho de 2025

O AMOR É UMA PLANTA FRÁGIL


 




O amor é uma planta frágil. Não nasce de repente como as tempestades, nem explode como os fogos do acaso. Nasce tímido num canto de terra que nem sabíamos ser fértil. Precisa de sol, mas teme o calor em excesso. Quer água mas afoga-se fácil. É sensível ao vento das palavras duras, aos silêncios longos como noites de inverno. Ele germina em silêncio, no escuro do coração, onde a terra é feita de memórias, desejos e medos. Surge quase invisível, como quem pede licença para existir. Cresce devagar, folha a folha, gesto a gesto, ao toque leve, ao olhar atento, à paciência dos dias. Quem ama aprende a jardinar com o coração. Aprende a podar a incompreensão, a regar com ternura, a protege-lo das pragas, da rotina. E mesmo assim, às vezes o amor fenece. Não por falta se sentimento, mas por falta de presença. Porque o amor, tal como as plantas frágeis, não vive só de sementes lançadas em solo fértil – precisa ser cultivado com carinho, todos os dias, com ternura nas mãos e a alma entre os dedos.



albino santos
*Reservados Todos os Direitos de Autor

quinta-feira, 3 de julho de 2025

QUANDO CHEGAS DISSOLVEM-SE AS TREVAS



Quando chegas dissolvem-se as trevas. Os teus olhos tecem a luz como quem borda o alvorecer sobre a pele da noite. Não precisas dizer palavra – és claridade em forma de presença. Trazes contigo uma luz que não se vê - sente-se. Atravessa-me. Rasga a sombra dentro de mim com a delicadeza de quem sabe exactamente onde te quero… Há em ti uma alvorada que me fascina. Quando te aproximas, tudo em mim se despe da ausência – o corpo acende-se em planícies férteis onde antes tudo era um árido deserto. Os teus passos sobre o chão têm o peso exacto da ternura, e o teu olhar toca-me com a suavidade de uma mão invisível. Deslizas pelos meus dias como o vento morno sobre os campos – sem pressa, mas com o rumo certo. E eu deixo-me colher, aberto como uma flor à tua luz. Há em cada gesto teu um erotismo doce, uma vertigem delicada que me envolve e fascina. És água em sede antiga e eu bebo-te até onde consigo e além do que ouso. És o princípio e o fim da minha inquietação. Chegas e tudo se transfigura. A tua pele, um livro que leio com os dedos. O teu riso, a música quente e deliciosa de um blues que me devolve a luz e o prazer da vida.
Sim, quando chegas dissolvem-se as trevas. E eu, curvo-me em silêncio diante da tua luz – não por submissão, mas por reconhecimento. E não há refúgio possível, porque em ti encontrei o exílio mais doce. Sou corpo anoitecido que resplandece para ti. E, diante da tua luz, ergo a voz embargada de gratidão por seres sol e chama, mar que me arrebata das trevas, fúria que me guia à paz – és o meu tudo e o meu quase nada, mas sobretudo és a luz que teces em mim de cada vez que te amo.


albino santos
* Reservados Todos os Direitos de Autor