Amanheci
no teu rosto, como quem desperta dentro de um suspiro. A claridade, ainda
tímida, arrastava-se pela pelo enigma do teu silêncio. Havia no contorno dos
teus lábios uma noite inteira que se recusava a partir. Eras madrugada e aurora
ao mesmo tempo, eras luz e sombra, e eu, sem saber se sonhava ou apenas dormia,
deixei-me ficar preso no intervalo entre o teu suspiro e o rumor do dia que
nascia. O lume extenuado da noite ainda ardia em ti, um brilho lento que tecia
nos contornos do teu corpo a última memória das estrelas.
Deixei errar a mão
sobre a tua cintura, com a delicadeza de quem teme quebrar a eternidade, e descobri
no calor do teu corpo a alquimia secreta do desejo. Havia em cada linha da tua
pele um convite, em cada gesto do teu corpo uma vertigem, e eu, rendido à tua
sedução, deixei-me entregar ao milagre de existir contigo. Eras música sem som,
poesia sem verso, chama sem cinza – e eu era apenas alguém aprendendo a
renascer nos teus olhos.
albino santos
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