Na
praia destes anos, o horizonte abre-se como uma ferida lenta, sempre azul e
sempre distante. O vento trás consigo o rumo das horas esquecidas, como se cada
sopro fosse um recado dos dias que se perderam no silêncio. Caminhamos sobre a
areia fina, e cada grão parece contar uma história, um instante que nos escapou
entre os dedos, como se o tempo fosse feito apenas de fugas.
Olhamos as pétalas do tempo com
melancolia e tristeza. Elas caem, uma a uma, da árvore invisível da vida, e
repousam em nós como um delicado luto. Não são apenas lembranças – são perfumes
que já não voltam, são gestos suspensos, são vozes que se apagaram no eco das
madrugadas. E no entanto, há uma beleza secreta nesse cair: como se a própria
finitude fosse a prova de que existimos intensamente.
A tristeza acompanha o rumor da maré
baixa. É uma música abafada que insiste em permanecer, mesmo quando fingimos
esquecê-la. Ela nos ensina a contemplar o que se perdeu, e a guardar no mais
íntimo, o que nunca poderá ser tocado de novo. Há algo de sagrado nesse olhar: como
se as perdas fossem destino, e cada memória, uma chama que se recusa a extinguir.
Assim seguimos, à beira do mar,
recolhendo pétalas invisíveis, sabendo que cada passo é também despedida. Mas
entre a melancolia e o silêncio, uma ternura secreta permanece: o
reconhecimento do que tudo o que se desfaz na areia do tempo floresce em nós,
como maré que nunca deixa de retornar.
albino santos
* Reservados Todos os Direitos de Autor
Albino,
ResponderEliminarO texto é uma delicada meditação sobre o tempo, a memória e a melancolia, construída com imagens poéticas de grande força sensorial. Desde a abertura, a praia é apresentada como um espaço simbólico: “o horizonte abre-se como uma ferida lenta, sempre azul e sempre distante”. Há aqui uma dualidade de beleza e dor, de proximidade e distância, que estabelece o tom reflexivo do texto. O horizonte não é apenas físico, mas emocional, representando aquilo que nos escapa e que nos marca silenciosamente.
O uso do vento como mensageiro do tempo e das “horas esquecidas” reforça essa sensação de passagem e efemeridade. Cada grão de areia se torna um fragmento de memória, um instante que escapa, sugerindo que o tempo é percebido não como um fluxo uniforme, mas como uma sucessão de perdas e descobertas. A atenção aos detalhes sensoriais areia, vento, maré transforma o texto em uma experiência quase tátil, que convida-nos a caminhar junto com o narrador.
A segunda estrofe intensifica a reflexão, com a imagem das “pétalas do tempo” que caem da “árvore da vida”. Você Albino, consegue aqui unir poesia e filosofia, mostrando que a melancolia não é apenas tristeza, mas um meio de reconhecimento da existência intensa: as perdas e lembranças, mesmo efêmeras, conferem sentido ao viver. O uso de metáforas sensíveis perfumes, gestos suspensos, vozes apagadas reforça o caráter íntimo e reflexivo do texto, tornando a experiência do tempo palpável.
Na terceira estrofe, a tristeza é personificada como música abafada que permanece apesar da tentativa de esquecê-la. Essa musicalidade invisível do texto sugere que há aprendizado e contemplação na perda, transformando a melancolia em um sentimento sagrado, quase ritualístico. Cada memória se torna uma “chama que se recusa a extinguir”, expressão que traduz a persistência da vida interior diante da efemeridade do mundo externo.
O fechamento do texto retoma a caminhada à beira-mar, desta vez enfatizando a ternura que permanece mesmo entre a melancolia e o silêncio. Há uma reconciliação delicada com o tempo: a consciência de que tudo que se desfaz “floresce em nós, como maré que nunca deixa de retornar”. A metáfora da maré encerra o texto com uma sensação de ciclo e continuidade, equilibrando a melancolia com uma espécie de esperança silenciosa e contemplativa.
Em resumo, você constrói um texto que é ao mesmo tempo poético e filosófico, sensível e denso, com imagens que se entrelaçam para transmitir a experiência do tempo, da memória e da perda. Cada frase parece cuidadosamente medida para evocar a melancolia e a beleza do efêmero, convidando a sentir o peso e a ternura do existir.
Lindo meu amigo!
Fernanda
Esa melancolía y tristeza es la que yo padezco, llevo en mi corazón mi trocito de mar, donde volvería de nuevo, el mar es mágico, aquí en la ciudad un mar de ruidos, pero es lo que toca, estoy deseando de nuevo volver a mi bahía. Pero dentro de mi van esos pétalos sobre las arenas para que florezcan de nuevo, así es la vida, morir y renacer.
ResponderEliminarUn fuerte abrazo y feliz semana
Nostalgia con una esperanza cosida al alma. Muy bonito tu relato, Albino.
ResponderEliminarBesicos muchos.
Un paseo por recuerdos bohemios, donde el alma libre se sacia de esa libertad que da mirar al horizonte y ver esa inmensa masa de agua azulada que nos transporta a viejas , amores, deseos inolvidables. En definitiva, un recorrido por la memoria de los sentimientos.
ResponderEliminarUn abrazo.
Todos llevamos en el corazón un trozo de melancolía por lo que hemos perdido,por lo que extrañamos y sabemos que no ha de volver...
ResponderEliminarPrecioso relato!
Besos
albino, hermoso texto.
ResponderEliminarTodos llevamos esa melancolía por lo que fue y se a ido, esos pétalos cayendo son caricias que rozan nuestra alma que nos llena de ternura.
Maravilloso.
que pases una maravillosa semana, sin melancolía.
Besos albino
Melancólico relato hay momentos que senos quedan grabados y los recordamos siempre. Te mando un beso.
ResponderEliminarHay mi querido Albino, todos
ResponderEliminarsufrimos de esas melancolias,
que tambien son especiales,
pues nos dejan esos sabores,
de esas memorias vividas, y
que jamas se nos olvida,
aplaudo con carino tus
letras.
Besitos dulces
Siby
Compañers melancolía....siempre fiel pegada a nuestros pasos a ese tiempo que cual pétalo cae...es algo ue llevamos clavado, y nos hace felices en recuerdos y sentir añoranzs
ResponderEliminarPrecioso querido poeta
Un abrazo
Muy hermoso texto el de hoy Albino! El mar es inspirador, un abrazo!
ResponderEliminarAlbino, tu escrito poético es para leerlo varias veces, e impregnarse de la profundidad de sus metáforas y significaciones...Merece la pena saborearlo, adentrarse en la voz de los elementos, la arena, el viento, el murmullo de la marea...Todo nos habla de la vida, del recuerdo, de la tristeza y la soledad...Esos pétalos del tiempo, preciosa metáfora, que van cayendo del árbol de la vida...Ufff...Conviertes ese paseo por la playa en una experiencia mágica y mística...Y es que en verdad el alma intuye y escucha la poesía de los elementos, la belleza espiritual que nos rodea y nos acuna...Te felicito por tu gran sensibilidad y belleza expresiva...Un placer leerte, amigo poeta...
ResponderEliminarMi abrazo entrañable y admirado, Albino.
Hoy tus letras son melancólicas, querido Albino, pero intensas y hermosas. El mar, los pétalos, la nostalgia, entre paseos, y miradas , espero que el viento que se lleve las penas.
ResponderEliminarQue tengas una feliz tarde.
Beoss.
Olá, Albino!
ResponderEliminarAdorei o texto, maravilhoso e inspirador. É um transitar consciente da melancolia entre o temporário e o perene. Ao final, com uma linda metáfora, o texto nos torna mais leves, prontos para seguir em frente. Como um renascer. "Mas entre a melancolia e o silêncio, uma ternura secreta permanece: o reconhecimento do que tudo o que se desfaz na areia do tempo floresce em nós, como maré que nunca deixa de retornar". Parabéns, um texto ímpar.
Bjss, Marli